domingo, 15 de dezembro de 2013

Exame da OAB

Tício, Caio e Mévio são grandes amigos e cursam o último ano do curso de Direito. Tício está muito nervoso, pois neste domingo realizará, assim como seus amigos, a prova objetiva do exame de ordem da OAB. Caio e Mévio estão tranquilos, sabem que estudaram o curso inteiro, por isso, não há com o que se preocupar. Tício não compreende a calmaria de seus amigos e começa a indagá-los tentando fazê-los compreender como a prova não é simples, já que serão cobradas nas questões objetivas matérias que foram vistas desde o início do curso até o final, por isso, seria impossível lembrar de tudo o que já haviam estudado. Caio e Mévio começam a pensar sobre o que Tício estava lhes dizendo, e subitamente, começam a entrar em total parafuso com a prova que irão realizar.

Diante do caso concreto descrito acima, escolha a alternativa que define CORRETAMENTE o crime cometido por Tício:

a)       A)  Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio – artigo 122 do Código Penal
b)       B) Dano – artigo 163 do Código Penal
c)       C) Atentado contra a liberdade de trabalho – artigo 197 do Código Penal
d)       D) Extorsão – artigo 158 do Código Penal



Resposta correta: A

(Mariana Magalhães)

Brincadeiras a parte, quero desejar a todos os meus colegas de curso que realizarão a prova da ordem daqui a pouco, assim como eu, uma excelente prova! Lembrem-se, não chegamos no 10º período sem motivo algum, todos somos capazes de realizar essa prova com tranquilidade e sucesso!
Então, que venha o exame da Ordem!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Procura-se erro

um poeminho:

Procura-se erro
Como equação matemática
Em que dois negativos
Somam em um positivo.
Erre comigo

(Mariana Pio)

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Os zumbis anistiados

(Imagem: Heitor Shewchenko)

Marina era uma garota que se interessava muito pela política, assim como por conhecer coisas que se intitulavam como sobrenaturais.
Ela nunca teve medo do diferente, pelo contrário, ele (o medo) sempre estava presente em seu cotidiano, principalmente nas viagens do seu inconsciente.
Um dia desses, navegando sem rumo algum pelos quatro cantos da internet, encontrou uma reportagem interessante, que falava sobre a lei da anistia e até que ponto essa anistia concedida a presos políticos após a ditadura, poderia acabar se transformando em uma forma de impunidade política.
Quando se deparou com o horário, percebeu que já passavam das três da manhã e precisa dormir. Então foi se deitar, ainda meio eufórica, com a cabeça a mil com todas aquelas informações recém absorvidas. Mas rapidamente Marina se entregou ao sono.
Apesar de não ter dormido por muito tempo, já que precisava acordar cedo para ir à aula, a noite havia sido intensa, sonhos mirabolantes haviam ilustrado sua imaginação o tempo inteiro. De manhã, entrou no ônibus pensativa. Precisava entender porque havia passado a noite inteira sonhando com políticos brasileiros, e que estes haviam se tornado zumbis anistiados. Nada daquilo fazia sentido.
Passou o dia inteiro refletindo e contando para seus amigos o que tinha sonhado. Até ria quando contava, recordava perfeitamente dos rostos mais atuais da política brasileira andando como um ‘walker’ pelas ruas de Brasília, sugando tudo aquilo que os brasileiros tinham e o que não tinham.
Súbito, sua mente clareou em questão de segundos. Começou a rir quando compreendeu que o inconsciente realmente é a parte mais liberal do corpo de uma pessoa.
Sem preconceitos (ou não) mentais, entendeu que seu cérebro havia feito a ligação mais bizarra, e ao mesmo tempo, lógica que alguém poderia fazer sobre a atual política brasileira.
Finalmente, Marina conseguiu compreender que aqueles que um dia foram julgados como presos políticos, condenados a crimes hediondos, morreram e renasceram com a lei da anistia, e a partir deste momento, se tornaram os mortos-vivos da política brasileira. 

Para entender o texto clique aqui!

Este texto foi postado, primeiramente, na coluna "Crônicaria de Bolso" da Mariana Magalhães na Revista Friday, clique aqui!

(Mariana Magalhães)

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Diário de uma GYPSY

Queridos leitores do meu lindo e colorido blog/diário!
#adoooooooooro
Nossa, minha noite na balada foi, tipo, super, tipo, mega, hiper, tipo perfeitaaaaaaa! Tenho COM certeza, as melhores amigas desse mundo! S2
Esse fds fomos pra uma balada MARA! Só gente bonita, cheirosa, rica, TDB! Vocês não acreditam quem estava na mesma balada que eu e minhas bests!!! (pra quem me segue no insta e no twitter isso já não é uma novidade, né?! rsrs). Enfim, não causarei mais ansiedades, falarei logo! Aquele lindo e maravilhoso da novela! Meu DeOOOOOS, ele é tuuuuuuuuuuudo de bom!
E o melhor da noite não foi apenas poder vê-lo de perto, mas sim ser convidada por ele para ir pro camarote dele (sintam inveja, bitches!)! #ExpulsaAsInvejosas
Bebemos champagne a noite inteirinha! Nossa, fiquei maluquinha com tanto álcool e funk na cabeça! Haha
Depois que a balada acabou, aquele lindo da novela nos levou na limusine dele para uma outra festa, tipo, muito foda, tipo, MUITO BOA, cara! Tipo PUTA festa mesmo!
Na casa de um ‘chegado’ dele. Mas claro, né?! Não era festa pra qualquer um! Logo quando você chega num lugar desses vc percebe que só tem gente fina. Claro, né? Pra ir para uma festa TOP dessas existe uma espécie de pente fino, sabe... Tipo aquela coisa de seleção natural, né? (Para aqueles pouco informados, tem que ser bonito, meu bem! #FicaADica)
A festa era tão boa que nem percebi as horas passarem! De repente já era de manhã, então fomos para a cobertura e tiramos foto no nascer do sol MAIS LINDO que eu já vi nesse mundo! (sério mesmo!).
Bom, meus lindos, vou dormir pq já são quase meio dia e eu ainda não tive meu sono de beleza. Sabe como é, né? Difícil demais conseguir deixar a agenda com algum dia se quer vago para dormir!
Para aqueles que ainda não viram minhas atualizações da noite badalada, entrem no meu twitter e no meu instagram! (Corram, desatualizados e desligados do mundo! rsrs)
Para aqueles que estão aqui pela primeira vez, sejam bem – vindos, meus lindos!
Twitter e instagram: @cat_poderosa
Infelizmente meu facebook já lotou de amigos, não posso mais add ninguém, então meu lindos, follow me!!!
Por hoje é isso, meus queridos!
Xoxo,
Cat!
P.S.: para dar um gostinho de quero mais, vai aqui uma foto da melhor balada EVER!


(Imagem: http://www.google.com/imgres?espv=210&es_sm=122&biw=1280&bih=685&tbm=isch&tbnid=1KXyuXSsayg4mM:&imgrefurl=http://www.baressp.com.br/baladas/alternativa&docid=hZO2YlLuJFVESM&imgurl=http://www.baressp.com.br/admin/Subcanais/imagens/Balada-Alternativa.jpg&w=320&h=240&ei=Z1V4UvixFIXNsQSc9YHwBA&zoom=1&ved=1t:3588,r:6,s:0,i:104&iact=rc&page=1&tbnh=183&tbnw=232&start=0&ndsp=10&tx=108&ty=57)

(Mariana Magalhães)

Para entender mais sobre o texto, leia:

http://youpix.com.br/fun/obrigado-internet-os-10-gifs-do-rei-do-camarote/
http://demografiaunicamp.wordpress.com/2013/10/30/porque-os-jovens-profissionais-da-geracao-y-estao-infelizes/

terça-feira, 22 de outubro de 2013

de sa pe go

que desse apelo,
desapêgo.
pesadelo,
não-sossêgo,
não sossego.
sua pele que chêro,
desejo.

(Mariana Pio)

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Caminho da imaginação

Não sei precisar de onde vem minha inspiração
ela sempre busca um meio de chamar minha atenção
se junta com a minha sede de criação
e súbito, surge mais um verso pelas minhas mãos.

(Mariana Magalhães)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O dia em que ocuparam minha praça

Mendigos não devem ocupar praças. Afinal, além dos vários milhões que gastamos em nossos imóveis, também somos donos das praças. E dos parques. E das vias públicas. A partir de agora, vai ser assim: vamos, além de tudo, gastar mais água (porque isso o mundo tem de sobra – aquecimento global e escassez de água é ladainha), os guichos serão mais fortes, mais longos e por mais tempo, de modo que fique impossível deitarem nos bancos de nossa praça. Nós merecemos uma vista melhor, um espaço mais limpo pra caminharmos pelas redondezas – nada de semi humanos por perto, coisa mais desagradável e poluidora! Pra mim, não basta o insulfilm, a blindagem, os porteiros, frequentar somente os lugares certos, nada disso. Eles estão em todos os cantos (ouvi dizer), mas na minha praça já é demais. Não sou obrigada – porque lugar de vagabundo é na cadeia, bandido bom é bandido morto, e direitos humanos? para humanos direitos, é claro.

Senão, muito em breve serei obrigada a construir meu próprio heliporto na praça, de modo que não precisarei nem vê-los, apenas passar por cima. Um pouco mais.

(Mariana Pio)


entenda aqui.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Realidade escancarada e vandalizada

Os esmaltes das minhas unhas estão gastos, tenho olheiras que se confundem com a maquiagem borrada nos meus olhos. O Sol ofusca a minha visão, acho que devem ser quase meio dia.
Quando caio em consciência, percebo que estou atirada na calçada, como um vagabundo qualquer. As pessoas olham esquisito, devem estar me confundindo com algum bêbado ou drogado, e, para falar a verdade, não estou muito longe disso. Não consigo me lembrar de quase nada da noite passada, apenas de ter sentado na cadeira de um boteco no centro da cidade, procurando por um copo de cerveja.
Aos poucos minha visão vai voltando a sua normalidade, percebo que há sangue entre as minhas pernas. Porque será que estou sangrando? Ah... Minha cabeça dói, assim como os meus lábios, sinto que estão inchados.
Começo a tremer de frio em meio ao calor escaldante das ruas.
Meu Deus... O que aconteceu comigo? Será que ninguém percebe que estou precisando de ajuda? Onde será que estou...?
O desespero começou a me tomar... Levantei do chão com alguma dificuldade, me apoiando pela parede. Preciso de ajuda, de alguém.
O barulho dos carros na rua faz a minha cabeça latejar cada vez mais, estou confusa, não consigo organizar meus pensamentos. Flashes da noite passada começam a brilhar em minha cabeça... Havia um homem conversando comigo no bar, acho que ele queria me levar para sua casa. Eu resisti e de repente fui ao chão com a intensidade do soco que levei no rosto, acho que desmaiei por uns instantes...
Minha respiração começou a ficar ofegante com as memórias que estavam voltando em minha mente... Meu Deus, acho que fui violentada...
As lágrimas começaram a escorrer pelos meus olhos sem limite algum, preciso chamar a polícia. Vejo uma lanchonete na esquina, vou correndo naquela direção gritando por socorro. Os fregueses se assustam com a minha aparência e desespero, um segurança aparece na porta me impedindo de ultrapassá-la, ele segura forte em meu braço e, antes que eu pudesse pensar em falar alguma coisa, fui enxotada para fora, caio no chão e bato com a cabeça no meio fio da calçada. Apago novamente.
(Mariana Magalhães)

sábado, 7 de setembro de 2013

desmagnetizada

Você esteve aqui?
Por onde ando, por onde passo, vejo passos, ouço pegadas. Sinto o cheiro do seu caminhar errante exalando das marcas invisíveis que eu vejo nesse chão que não as mostra: seus pés.
Que caminho tomou? Caminho em uma direção que não tem sentido, esperando que me leve a um lugar qualquer, talvez lugar nenhum, talvez lugares vários, mas nunca lugar comum. Não sei se espero que haja um destino, quiçá um ponto de chegada, mas certamente sim: um de nova partida.

(Mariana Pio)

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Incerteza pura

Não me vejo naquilo que gosto
não me espelho naquilo que posso
meu passado não define presente e futuro
todos os dias me construo
sou um ser possuído de incertezas
mas completo de todas as purezas.

(Mariana Magalhães)

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Sem

Sem velocidade
Sem embriaguez
Abandonei qualquer sinal
Passo direto, sem ver
sem vez
Quase sem ser
Despida de qualquer sensatez
de qualquer vestígio de lucidez
Deixei qualquer sinal
num lugar qualquer
onde ninguém verá,
onde ninguém nunca passará,
ou saberá
da minha nudez
nesta minha mudez.

Aquele velho silêncio
que foi atropelado por tanto barulho
voltou a correr nas minhas veias;
me estupra
me invade
alguém de fato ouviu meu barulho?
os tempos em que meu coração fez alarde?
Porque agora aquele silêncio covarde
É minha coragem,
Minha droga - num consumo mutuo
nos matamos, reciprocamente
promiscuamente
enquanto o engulo lentamente
feito mel,
feito comprimido...
reprimido,
já não sinto.

(Mariana Pio)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O dia em que o Papa esteve no Brasil

Apesar de ter nascido em uma família católica e ter sido batizado com um nome bíblico, Matheus sempre se considerou um ateu fervoroso. Sempre foi um grande crítico das religiões, acreditava que as igrejas eram a melhor forma de 'tirar dinheiro' daqueles que precisavam se apegar a alguma crença para sobreviver nesse planeta mundano.
         Como um cético completo, Matheus deixava claro, para aqueles que quisessem ouvi-lo, que rejeitava crenças na existência de qualquer divindade e outros seres sobrenaturais. A ciência era pura e simples, a única resposta para todas as incógnitas do mundo.
         Um dia desses, ainda meio sonolento, levantou da cama e foi andando lentamente em direção à cozinha, mas antes que pudesse alcançar seu destino matutino, já ouvia sua mãe ao telefone, com uma voz eufórica. Logo imaginou que ela deveria estar falando com uma de suas amigas sobre alguma fofoca da vida de algum artista, mas quando parou para ouvir o que ela falava, percebeu que ela estava falando com o Padre da igreja que ela frequentava. Ficou curioso com toda a euforia de sua mãe ao telefone, mas preferiu esperar ela terminar a conversa, ele sabia que ela viria lhe contar a novidade, seja ela qual fosse.
         Quando ela finalmente desligou o telefone, foi correndo saltitante e feliz em direção ao seu filho, que tomava seu café da manhã lentamente. Matheus não mudou sua feição, apenas levantou os olhos e observou sua mãe vindo como um coelho saltitante. Ouviu por quase meia hora ela contar sobre as viagens que faria com a igreja para acompanhar a vinda do Papa, e sobre como estava feliz por poder fazer essa viagem e a ajudar o Padre de sua igreja a organizar toda a convenção.
-        Você realmente vai gastar seu tempo e dinheiro para isso, mãe? - disse Matheus com um tom pouco debochado e desacreditado no que estava ouvindo.
-        Qual o problema, Matheus? Afinal, o dinheiro serve apenas para realizar as nossas vontades, e no momento, minha vontade é participar dessa convenção. Tenho certeza que será uma viagem espiritual maravilhosa para mim. E, se você quiser, será muito bem vindo, pode me fazer companhia.
-        Ah! Não, muito obrigado, mãe. Estou muito bem por aqui. - respondeu Matheus, rindo um pouco entre cada frase que dizia. - Acho tudo isso uma grande perda de tempo, não sei como as pessoas podem realmente acreditar que Deus existe, simplesmente porque um Padre diz isso toda ‘santa’ missa. As igrejas são a maior mentira que a humanidade já criou.
         Sua mãe havia perdido um pouco do sorriso do rosto, mas mesmo assim, escutou seu filho com muita atenção. Quando ele parou de falar, ela respirou fundo e se juntou a ele na mesa.
-        Realmente, muitas igrejas, não só as católicas, já foram muito injustas com seus fieis, já abusaram de suas confianças, e fizeram milhares de outras coisas que podemos nomear como atitudes abusivas daqueles que faziam parte do clero. Mas não é por isso que devemos deixar de crer em algo que acreditamos que exista. Muito menos criticar as crenças que cada um possui.
         Matheus já tinha ouvido aquele discurso algumas vezes em sua vida, e já estava cansado de ouvir sempre a mesma coisa.
-        Se você, pelo menos, surgisse com um argumento novo e mais convincente, quem sabe essa conversa seria mais produtiva, mãe? Não adianta insistir. Não acredito que Deus fez o mundo em sete dias, não acredito que Ele nos observa e nos protege, até porque, se isso fosse verdade, não existiram tantas desgraças no mundo, como existem desde a existência da humanidade.
-                   Bom, quando estiver realmente disposto a conversar sobre isso, serei toda ouvidos, meu filho. Tenho que ir agora, vou cedo para a igreja ajudar o Padre organizar tudo.
Maria deu um beijo na testa do filho e seguiu, rapidamente, em direção à porta.
         Matheus estava de férias da faculdade e do estágio. Estava sem muito o que fazer, não ia viajar e não havia nada de interessante passando na televisão, então resolveu se sentar na frente do computador. Assim que abriu sua página do Facebook, deu de cara com um post curioso de uma página sobre um certo grupo ateísta. O texto era grande, vinha acompanhado de uma foto de um homem apontando um secador de cabelo para um menino. Achou aquilo interessante, então resolveu ler sobre o assunto. O texto era cheio de ideias contra as religiões, com várias citações, como por exemplo, ao niilismo de Nietzsche. Era um texto com grande conteúdo literário e com um objetivo curioso: angariar outros ateístas e agnósticos para que, nos dias em que o Papa estivesse no Brasil, começassem uma manifestação contra a ‘política das religiões’.
         Ele nunca tinha visto nada parecido no Brasil, então continuou lendo o texto com uma grande curiosidade. Para cumprirem o objetivo da manifestação, esses grupos de ateus e agnósticos teriam que se reunir em pontos importantes de cada capital brasileira, para realizar o ‘desbatismo’ daqueles que lá estivessem. E isso seria feito com secadores de cabelo, simbolizando os ‘ventos do secularismo’ para varrerem as águas do batismo de uma religião imposta à sociedade.
         A cada frase que lia, mais ficava interessado com aquele movimento. Resolveu então que iria até a Praça da Estação, que era o ponto de encontro da capital mineira, a cidade em que morava. Viu que um dos encontros seria naquele dia mesmo, e estava quase na hora de começar. Se vestiu rapidamente e foi correndo para a praça.
         Ao chegar ao local do encontro, se assustou com o número de pessoas que compareceram ao evento, se estivesse olhando de cima, tinha certeza que estaria vendo um mar de pessoas naquele lugar. Alguém falava em um alto falante, e Matheus então começou a seguir aquele som. Era um sujeito que aparentava ter quase 30 anos, vestia chinelos, calças largas, meio rasgadas e blusa branca, com barba a fazer e um cabelo meio bagunçado, falava a plenos pulmões, para aqueles que ali se encontravam, sobre qual era o objetivo daquela reunião.
         Depois de alguns minutos ouvindo aquele discurso, Matheus começou a olhar a sua volta. Milhares de pessoas ouviam com atenção o jovem rapaz que estava em cima do palanque, e balançando a cabeça em sinal afirmativo, todos mostravam concordar com tudo o que ele estava dizendo. Ficou mais algumas horas pela praça, apenas observando tudo o que estava acontecendo.
         Horas depois, foi surpreendido por aquele mesmo rapaz que estava no palanque com um alto falante, perguntando se ele queria ser ‘desbatizado’. Matheus tomou um susto com a forma em que foi abordado, mas educadamente, respondeu que não queria. Dali em diante, ficou cerca de meia hora, preso em um novo discurso, mas dessa vez era  apenas para ele. O jovem rapaz tentava convencê-lo de que o ‘desbatismo’ era a melhor saída para libertar-se das algemas religiosas.
-         Você me parece ser uma pessoa inteligente – continuou o rapaz com seu discurso – e se está aqui, tenho certeza que possui suas dúvidas quanto a existência ou não de seres divinos e sobre naturais, estou certo?
-         Ah... sim. - respondeu Matheus, meio duvidoso se deveria influenciar aquela conversa ou não.
-         Sabia! Você não estaria aqui se não tivesse esses pensamentos rondando pela sua cabeça. Desde que a humanidade existe os homens usam da religião para controlar as pessoas, afirmam existir seres que ninguém nunca viu para poderem segurar os impulsos humanos de tirarem o poder daqueles que não o merecem. E aqueles que acreditam nessas afirmações religiosas são aquelas pessoas que sempre tiveram muito medo do desconhecido, e preferiram se agarrar a qualquer coisa que lhe desse uma estabilidade mental e espiritual. - colocou sua mão no ombro de Matheus e olhou fixamente para os olhos dele – Então, você realmente acha que devemos deixar as pessoas continuarem a ser dominadas pelas igrejas, em pleno século XXI? Você concorda com todos os gastos políticos que foram realizados com a vinda do Papa? E aqueles que não são católicos ou não possuem religião, são obrigados a verem seu Estado gastando dinheiro público, porque um Papa resolveu visitar o país? Precisamos abrir os olhos da humanidade...
Antes mesmo que o jovem rapaz pudesse acabar seu discurso, Matheus colocou a mão no ombro do rapaz, e com um sorriso sem dentes, agradeceu a oferta, mas informou que precisava ir embora.
         Ele voltou para casa pensativo. Nunca tinha visto nada parecido com aquilo, apenas quando era época de eleições ou quando ocorriam movimentos religiosos pela cidade, mas de grupos ateus e agnósticos, aquela atitude, para ele, era novidade.
         Quando chegou em casa, encontrou sua mãe vidrada no computador, resolvendo as coisas para a viagem. Ficou olhando-a por um tempo, até que resolveu se sentar.
-        Mãe, estava, agora a pouco, no movimento que um grupo de ateus e agnósticos estavam fazendo lá na Praça da Estação.
-        É mesmo, Matheus? Você resolveu se ‘desbatizar’? – perguntou Maria, em um tom sereno e sábio.
-        Não, mãe. – balançou a cabeça negativamente e soltou um sorriso de lado. – Fui lá porque fiquei curioso com o movimento, nunca tinha visto nada igual. Até tentaram me ‘desbatizar’, mas eu não quis.
-        Sempre soube que você era meio cético, mas nunca achei que realmente tivesse aderido a algum movimento desses.
-        É, bom... – pensativo, fez uma pausa. – realmente não creio em Deus e nada ligado a qualquer tipo de religião, mas também, não sei se me considero um ateu ou um agnóstico, pelo menos não como aqueles que estavam na praça hoje. Não me vejo fazendo parte de um grupo assim. – pegou a mão de sua mãe e olhou nos olhos dela – Sabe mãe, voltei para casa pensando muito sobre tudo isso, e apesar do meu ceticismo, não concordo com o movimento que eles estão fazendo para atingir o Papa e todos aqueles que acreditam no catolicismo ou em qualquer outra religião.
-        Isso é uma grande novidade, meu filho. – Maria apoiou o cotovelo na mesa, e seu queixo em suas mãos, começou a ficar mais intrigada com a conversa de Matheus – Porque esse pensamento tão repentino? Você sempre foi contra tudo o que falei sobre religião...
-        É, eu sei, mãe. Apenas parei para pensar qual seria a grande diferença entre aquele grupo de ateus e agnósticos da praça, do grupo de católicos que foram receber o Papa. E acho que cheguei a uma conclusão um tanto irônica...
-        E que conclusão é essa?
-        Bom, tudo o que já li sobre os descrentes em figuras religiosas e sobrenaturais, sempre os igualava com um grupo que se dizia sem religião, sem ideais para tentar convencer as pessoas do que realmente existe no mundo ou deixa de existir, os intitulavam, simplesmente, como pessoas irreligiosas. Mostrando que a crença deles era apenas naquilo que pode ser cientificamente comprovado, deixando claro que eles vivem em um mundo completamente positivista, longe de qualquer coisa que possa se caracterizar como duvidosa, sem uma resposta concreta. Sei que realmente existem pessoas que pensam dessa forma e posso dizer que até hoje, eu concordava com todas essas afirmações, mas depois que fui nesse movimento, acabei mudando completamente de ideia sobre certos grupos de ateus e agnósticos.
-        Mas o que aconteceu lá que te fez tanto mudar de pensamento?
-        Eu simplesmente percebi que não existe nada no mundo, que possa ser nomeado como irreligioso. Até aqueles, como os ateus e os agnósticos, que se dizem descrentes de tudo que não possui explicação científica, acabaram criando uma religião, mesmo que não intencionalmente, mas o fato é que criaram uma espécie de religião. O que eu mais percebi nesse movimento de hoje, foi que o grande objetivo do momento não era o 'desbatismo', isso era apenas uma desculpa para reunir os descrentes religiosos, a grande questão de toda aquela reunião, era fazer com que a sociedade ateísta crescesse cada vez mais, unindo aqueles que já tinham aderido ao movimento, com aqueles que ainda estavam em dúvida sobre o que realmente acreditavam ou não.
-        Olha só! Por essa eu não esperava... - afirmou Maria com um tom surpreso.
-        Sem contar que, convenhamos, acaba sendo uma grande hipocrisia as pessoas desse grupo serem contra qualquer religião. Se pararmos para pensar, não existiriam ateus e agnósticos, se as religiões não existissem. Com todo esse movimento de hoje, percebi que eles possuem uma relação de dependência com os religiosos, e se esses religiosos deixarem de existir, os ‘irreligiosos’ também não existirão mais, pois aquilo pelo que afirmam ser contra, não existirá mais.
         Maria soltou um sorriso no rosto e passou a mão pelos cabelos de seu filho.
-        Apesar de continuar com meus pensamentos, sobre a existência de seres divinos, intactos, não concordo com a intenção que certos grupos estão tendo com a vinda do Papa. Acaba que de certa forma se torna uma postura ofensiva a ele e a todos os católicos. Manifestações com 'desbatismo', a realização de 'beijaços gays', protestos contra os gastos com a vinda do Papa... Sim, entendo que tudo tem fundamento. A vinda do Papa teve muitos gastos políticos mesmo, mas não podemos esquecer que, além de Papa, no final das contas, ele também é um líder político como qualquer outro, e a realização desses gastos se faz necessária, tanto para a proteção do próprio Papa, como para a proteção da população brasileira que estará presente nas cerimoniais religiosas que serão realizadas. Devemos sim pedir que o governo brasileiro mostre tudo o que gastou e com o que gastou para sua população, mas de uma forma menos agressiva e ofensiva ao Papa e aos religiosos. E entendo que os homossexuais já passaram e ainda passam por muitos preconceitos, principalmente, pelo fato de que a igreja católica ainda seja contra esse tipo de relacionamento, porém, devemos lembrar que não foi o Papa Francisco que impôs esses pensamentos, apesar de ser o representante da igreja católica, e que a realização de manifestações como essas, não ajuda em nada a população de homossexuais do Brasil, muito pelo o contrário, os expõe para a sociedade de uma forma agressiva, fazendo com que muitos não concordem com a atitude que tiveram, e não os apoiem em suas manifestações. - continuou Matheus.
-        Sabe Matheus... Sempre fui muito religiosa, acredito em muitas coisas que não possuem uma explicação concreta, mas também nunca fui contra ninguém que não acreditasse nas mesmas coisas que eu. Creio que uma sociedade precisa respeitar todas as diferenças, sejam religiosas, culturais ou políticas. E realmente, devemos todos respeitar a figura política e religiosa que é o Papa Francisco, até mesmo porque, dentro de todas as discussões que vêm ocorrendo contra os pensamentos da igreja católica, não podemos esquecer que ele vem demonstrando grande apoio a todos aqueles que demonstram precisarem de algum tipo de apoio, estejam esses problemas envolvidos com questões políticas ou, até mesmo, com questões sociais. - deu uma pausa olhando para seu filho, e suspirou. - Mas tenho que confessar, nunca tinha ouvido e nem pensado em nada do que você disse agora, e para mim, não existe pensamento melhor, que explique tanta coisa, do que o seu sobre toda essa história. Fico feliz que esteja pensando assim.
-        É, mãe... admito que até eu mesmo me surpreendi com todo esse pensamento que tive sobre tudo que envolve as religiões. Sempre fui uma pessoa muito fechada para esse tipo de conversa. Apesar de tudo, gostei do que vi hoje, estava precisando me aprofundar um pouco mais nessas questões para poder tirar minhas próprias conclusões. Não deixo de ter os meus pensamentos quanto a existência ou não de seres divinos pelo mundo, mas posso dizer que estou me tornando muito mais tolerante com aqueles que acreditam nisso.
-         Que bom, Matheus. Você sempre foi meio cabeça dura, mesmo com esses assuntos. – soltou um sorriso frouxo – É muito bom saber que você começou a amadurecer seus pensamentos, ainda mais com assuntos tão complexos de se discutir... - Ela começou a se levantar da cadeira e a desligar o computador – Bom, meu filho, vou me deitar, amanhã o dia vai ser longo. – Deu um beijo em sua testa e foi seguindo para o quarto.
         Matheus ficou observando sua mãe, e antes que ela pudesse sumir para dentro do quarto, em um impulso, ele a chamou.
-        Oi, meu filho... – Maria se virou para ele.
-        Bom, mãe, eu estou de férias, né... Então, se precisar de alguma ajuda para preparar as coisas na igreja amanhã, posso te ajudar.

         Sua mãe o respondeu com um grande sorriso no rosto. – Obrigada, meu filho. Boa noite.

(Mariana Magalhães)

terça-feira, 30 de julho de 2013

Carta para os planos passados

Há tempos não passo por aqui, mas hoje acordei nostálgica. Resolvi caminhar no parque, como sempre fazíamos aos domingos de manhã. O dia estava com um ar positivo. Andei no meio daquele frio que, aos poucos, era substituído pelo calor do Sol que, timidamente, começava a parecer no céu anil.
Quando cheguei perto do parque, vi duas crianças brincando. Elas jogavam areia uma na outra e riam como se não houvesse amanhã, suas risadas eram de uma sinceridade que passava a gostosa sensação de que o mundo inteiro era igual à felicidade daquele momento. E de novo, lembrei do passado, lembrei de você, de nós dois. Nossos momentos juntos tinham exatamente essa mesma felicidade, a mesma alegria simplista e translúcida.
Não sei mais há quanto tempo não nos falamos, já perdi as contas. Na verdade, nunca calculei esse tempo perdido, ele me seca a minha garganta, me tira o ar, fica quase impossível respirar. Sei, apenas, que essas crianças no parque me fizeram, finalmente, admitir para mim mesma, que sinto sua falta todos os dias. Foi após esse momento de pura realidade que criei coragem e deixei o ar encher meus pulmões ao máximo, me levantei decidida e cheia de coragem. Sem pensar duas vezes, comecei a caminhar em direção a sua casa, e no fundo, vim rezando, torcendo para que você ainda morasse na mesma casa, na Rua 25 de junho (coincidentemente, o dia em que nos conhecemos no bar da esquina).
Quando cheguei à sua porta (onde me encontro, neste momento, escrevendo esta carta), hesitei por um momento, tive medo de tocar a campainha. Pensei em, discretamente, ficar olhando sua janela, esperando alguém passar, torcendo para que esse alguém fosse você. E não precisei esperar muito, você passou pela janela, mas meus segundos de felicidade duraram pouco. Você estava rindo, da mesma forma que aquelas crianças riam no parque, mas quem te fazia rir e que te beijava com tanta sinceridade, era outra pessoa. Por alguns minutos, fiquei estática, meu coração batia devagar. Lentamente, fui escorregando contra o muro e acabei me sentando na calçada.
Respirava forte, mas o ar não enchia meus pulmões, comecei com uma daquelas minhas crises de pânico que você bem conhece. Peguei meu caderno da bolsa e disparei a escrever, aos poucos, comecei a respirar melhor e quando me dei conta, estava escrevendo esta carta para você. Acho que senti uma necessidade de te mostrar que ainda me importo, e que provavelmente, sempre me importarei com você.
Espero que, um dia, eu possa ser feliz sem você, da mesma forma que você aparenta ser sem estar ao meu lado. Apesar de não fazer mais parte disso tudo, desejo, de todo o meu coração, que você continue com toda essa alegria gostosa de ver, sempre gostei do jeito que você sorri. Sei que sua felicidade já não faz parte da minha vida há muito tempo, mas mesmo assim, ainda desejo que ela seja sempre tão translúcida e infinita quanto à daquelas crianças do parque.

Com todo o meu carinho,

Daquela rabugenta que um dia fez parte dos seus planos de felicidade.


(Mariana Magalhães)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Augusto das chuvas

Augusto era um menino nascido em um berço pobre, foi concebido por acidente, nunca foi desejado por seus pais. Ele nasceu em um dia de chuva e enchente na favela. Sua mãe nunca ligou muito para ele, viveu seus primeiros sete anos de vida com sua avó materna, que ralava dobrado para alimentar o menino. Seu pai, sem ensino médio completo, cansado de procurar um emprego e de ver os riquinhos com seus carros blindados, fechando as janelas em sua cara fingindo que ele não existia, tomou uma decisão. Foi até a casa da avó de Augusto. Depois de uma discussão ferrenha, com direito a algumas agressões físicas, aquela velha senhora desistiu de tentar, e o menino foi arrastado, em prantos, pelo pai. No dia seguinte, Augusto estava dormindo em um papelão na calçada da rua, tremendo de frio e implorando por um trocado, entre os carros fortes habitados com pessoas amedrontadas o suficiente para não perambularem a pé pelas ruas.
Quando alcançou seus 12 anos de idade, cansado de ser espancado e explorado pelo pai, criou postura e se decidiu. Esperou que seu pai apagasse, depois de ter bebido todo o dinheiro que Augusto havia 'esmolado' durante o dia. Lotado de raiva por não ter o que comer, pegou um pedaço de pau que estava largado na rua e começou a sessão de espancamento em seu pai, começou a descontar todo aquele ódio reprimido e doído. E assim o fez, até o momento em que teve certeza de que ele não estava mais respirando. Por alguns minutos, permaneceu ali, parado, ofegante e em silêncio, deixou uma lágrima fugir de seus olhos. Ouviu o barulho dos trovões e percebeu que deveria fugir dali. Achou um viaduto onde moravam alguns vários drogados sem rumo, e decidiu que aceitaria um pouco daquele pó que lhe ofereceram, precisava disfarçar aquela fome que causava dor em seu estômago.

Quatro anos depois, já não parecia mais ser o mesmo, estava magro demais, e agora, andava armado. Um dia desses, se viu no desespero, encontrou-se completamente sem dinheiro para comprar um pouco de cocaína. Olhou para o outro lado da rua e viu uma menina que corria para fugir da chuva que começara. Decidiu que dela tiraria o sustento momentâneo para o seu vício. Apontou a arma para ela, ordenou que passasse sua bolsa e que não gritasse. Mas ela gritou. Chamou a atenção de dois policiais parados na esquina. Augusto não havia parado para olhar se haviam outras pessoas por perto, esse foi seu maior erro. De repente, sua arma disparou, ficou em choque ao ver o sangue que se misturava com a água da chuva no meio da calçada. Começou a correr, não olhou para trás, mas sabia que estava sendo perseguido. Em meio a um disparo, sentiu uma forte dor no peito, ficou sem fôlego. Caiu de joelhos no chão. Viu, novamente, sangue se misturando com a chuva pelo chão. Se deitou, não conseguia mais se mover. Chorou como no dia em que nasceu, mas, dessa vez, seus gritos foram em vão, ficaram abafados pelo barulho da chuva e dos trovões. Foi fechando os olhos devagar. Finalmente, em meio à solidão, sentiu que poderia descansar em paz.

(Mariana Magalhães)

terça-feira, 2 de julho de 2013

O Povo dilatado de 2013

A movimentação de partículas, que dilata a massa, fenômeno inerente ao calor, veio no inverno. A primavera, como alguns se precipitam em denominar, adiantou-se esse ano. Não me dignei a me manifestar a respeito das manifestações – onde de fato me manifestei – por motivos de haver previsto que essas partículas em movimentações agitadas e de difícil definição haveriam de confundir ainda muitos e em muitos aspectos, de modo que qualquer posicionamento a esse respeito parecia ser, por assim dizer, precipitado. Agora, a pouco mais de duas semanas nas ruas, a necessidade de expressar ~explicitamente~ alguma coisa em relação a isso tudo me deixa a beira de implodir.
            A começar por colocar em xeque aqueles que criticam a política ou se dizem odiadores, em qualquer mesa de almoço ou de bar na qual o assunto eventualmente (sempre) surge. Queria ter visto todos eles nas ruas, sonho meu. Uma vez postos em xeque, cederam. A vontade de subverter a ordem ou, como gritam outros, mais ousados, de mudar o Brasil, morre na discussão mesmo. "Sine práxis". Enfim. Outros, créditos sejam atribuídos, surpreenderam. Me encantaram em uma das assembléias populares, na Câmara dos Vereadores de BH, grupos de pessoas sentadas na grama, no chão, ou mesmo juntos de suas barracas de acampar e faixas penduradas, discutindo política e prática política, buscando informação e conhecimento. Gente que, até onde eu sei, costumava pregar o mais grosso do senso-comum sobre o assunto.
            Houve, ainda, o momento do medo. Tudo passou a ter uma imagem perigosa, assustadora como um gigante acordando grogue de sono, cambaleante, sem saber pra onde mover os próprios pés. O nacionalismo, ou o fascismo disfarçado, como alguns disseram, o hino nacional cantado aos berros e a vagueza, a indefinição aparente do que se reivindicava resultaram num vazio que provocou medo, em alguns, de ser preenchido pela esquerda e, em outros, de ser preenchido pela direita. Os primeiros a convocarem mobilizações erguiam bandeiras vermelhas – movimentos populares que são –, ainda que não explicitamente. Manifestação apartidária não é anti-partidária e muito menos apolítica. Aqueles que acreditavam na possibilidade do golpe descarado (porque o velado está em curso, especialmente no Congresso, legitimamente eleito graças a certas coligações de legendas que cagam&andam para seus eleitores, e aos próprios eleitores, claro) da direita-reaça-conservadora não contavam com a eficiência da ~rede~ que exibe vídeos, gravações e que viabiliza denúncias praticamente em tempo real, de modo que, ainda que em forma de especulação, contribui para que os manifestantes (pelo menos os mais engajados) fiquem alerta. Assim, o verde e amarelo desorientado vai se retirando pela direita da manifestação.
            Alguém que admiro, com muito mais tempo de experiência e política que minha pessoa esquerda-do-Direito, no auge de meus 22 debochados anos de idade, garantiu a solidez da democracia brasileira. Nervos acalmados dentro do possível. Paralelamente, as críticas principais às manifestações evanesciam, pelo menos em Belo Horizonte – cujo povo já nutre um sério e amplo problema como o executivo –, vez que as assembléias populares horizontais foram estabelecidas e a questão do foco passou do estado de “( )sem” para o de “(x)muito”. A outra questão de crítica severa das manifestações, que era a falta de politização, ou mesmo de educação política dos manifestantes, transmutou-se em uma forma de algo como um incentivo. As pessoas conversam sobre política a todo tempo, nos mais variados lugares e com os mais diversos interlocutores. As manifestações fizeram com que as pessoas façam política, ainda que sem querer ou inconscientemente, em especial aqueles que dizem odiá-la. Elas são, por si só, uma manifestação política, um posicionamento, ainda que, em certo momento, não muito bem delineado (ou quase que abstrato - vide “mais saúde, mais educação”, “fora Dilma”, “pena de morte para corruptos”).
            O vandalismo, por sua vez, é questão mais complicada por motivos de subjetividade. Gritaram “sem vandalismo!” e eles responderam com piche: “me vandalizaram a vida toda”. Verdade. Quem há de negar? Quem há de discordar, ainda que discorde do vandalismo em si, que a raiva deles é muito maior e descontrolada que a daqueles que levaram cartazes e clamaram por “pacificidade”? porque assim, pacificidade  e passividade não são sinônimos; antes, dificilmente caminham juntos – luta-se por paz, hoje em dia, e toda forma de luta tem sido válida. Discordar disso me parece prepotente, autoritário: só a MINHA luta é válida. Parece, inclusive, hipócrita, já que não se caminha com os pés dos outros. Ainda sobre o ~vandalismo: meu conspiracionismo Foucaultiano já me soprava nos ouvidos que tinha algo de no mínimo suspeito a respeito. Vídeos e depoimentos de pessoas de diferentes lugares, em diferentes posições sobre/nas manifestações confirmaram: há, sim, policiais infiltrados com a função de inflamar a violência, o vandalismo e o desespero que, pra quem ta no meio das marchas, parece vir do além, do nada, sem motivo aparente, mas que enseja a fumaçada de gás lacrimogênio e balas de borracha que nos invadem e apartam a multidão – tanto enquanto multidão como enquanto sujeitos (diversos, mas unidos por uma causa comum).
            E pra quem achou que era fogo de palha: o povo não se calou com promessas. Nem com projetos anunciados como se fossem MP (que o executivo expede por conta própria e pronto, num primeiro momento), mas que na verdade dependem de votação, quorum, burocracia etc etc etc. Nem com a eminência da aparente resolução de um ou dois ou três pontos questionados durantes as manifestações. O povo quer mudanças estruturais, profundas e, ao que tudo indica, não vai se contentar com medidas paliativas e pontuais. E, aparentemente, nem vai se calar enquanto essas mudanças não forem estabelecidas minimamente.
            Estas análises sobre diferentes pontos, dos mais nebulosos, a respeito das manifestações de 2013, me permitiram concluir pela continuidade delas, em seu curso natural. Aqui em BH, ao menos, chegamos às assembléias populares horizontais, às discussões, também horizontais, sobre as pautas de reivindicações e, até mesmo, ao diálogo com a prefeitura inflexível, higienista e que sofre com os males da movimentação-social-fobia. Aqui ta mais ou menos assim: Prefeito, sua excelência VAI TER que agüentar o povo, esse povo inconveniente e indignado que atrapalha o funcionamento de vossa empresa sustentada com nosso dinheiro – povo ingrato!
            Me parece que é pra esse tipo de posicionamento que as manifestações estão levando os cidadãos e vice-versa; a geração que está tremendo o Brasil e sua perspectiva no mundo já mostra alguma coisa de mais engajada com a consciência política do que a anterior – ainda que esta seja uma possível conseqüência a longo prazo, pra quando quem estiver no poder formos nós; momento este em que, espero, a palavra “poder” não mais designará o tipo de função a que é atribuída hoje – um poder déspota, abusivo. Devaneios... Mas enfim. R-evolução e reconstrução.

(Mariana Pio)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A história de uma população inerte

Era uma vez, um país que sobreviveu a uma ditadura militar pesada, e que depois de muitas mortes de protestantes, muitas repressões à imprensa, muito sofrimento e pouco reconhecimento, o povo ganhou! E aos poucos começou a ganhar sua tão esperada democracia. Foi um início lento, os novos governantes começaram a elaborar a constituição federal que falava em igualdade e liberdade. Todos começaram a ficar muito felizes, pensando “Agora sim! Agora nosso país vai pra frente! Agora sim nós vamos crescer!”.
Mas com o tempo, na espera da aplicação pelo estado desses direitos tão bem escritos e tão desejados por todos, o povo foi se esquecendo de cobrar de seu governante a eficácia dessa mesma constituição cheia de direitos humanos, que dava gosto de ler. Logo, os “espertinhos” e egocêntricos que estavam no poder, tomaram proveito da inércia da população, que acabou se acostumando com a ideia de trabalhar até morrer, sem ver aquela linda constituição começar a literalmente vigorar.
Naquele país, existia um grande aliado do governo dos “espertos”, era uma certa emissora de televisão, que dominava o país e fazia lavagem cerebral na população, transmitindo para toda a população, todos os dias, aquilo que o governo queria que eles achassem que estava acontecendo, maquiando a realidade. A aparência que era passada era a de um estado que estava crescendo e se desenvolvendo, e que a qualquer momento, todos teriam, realmente, uma vida digna e poderiam ter orgulho de falar que viviam em um país democrático.
Mas, mais de 20 anos se passaram, e nada do desenvolvimento chegar, nada do crescimento acontecer. E, aqueles manifestantes que suaram e gritaram para revolucionar o país, já estavam cansados, não possuíam mais forças para protestar por tudo aquilo que continuava errado e precário. Começou então, uma indignação destes populares, mas não contra o estado, mas sim contra os jovens que agora teriam forças para combaterem o estado, como os mais velhos fizeram no passado, mas que não faziam nada para mudar o país. Acontece que muitos jovens já estavam acomodados com a vida “classe média” que possuíam, estavam tão bitolados com o mundo em que viviam que ninguém mais sabia diferenciar democracia do que realmente estava acontecendo nesse país.
Até que um belo dia manifestantes, em uma das capitais mais populares e poderosa economicamente, resolveram sair nas ruas para protestarem contra o aumento das passagens do transporte público, que ainda era muito precário e atendia mal a população, mas todo ano encarecia mais um pouco. Parecia tudo lindo, uma realização, finalmente aquela inércia popular estava começando a acabar, e o país a caminhar, lentamente, para um caminho de igualdade. Mas o pior aconteceu, uma manifestação pacífica foi atacada violentamente por policiais, que nem se quer estavam preocupados se machucariam alguém ou não. Estavam simplesmente obedecendo às ordens do chefe do executivo. E a repressão foi só piorando, muitos machucados, e até mesmo a imprensa, que não fazia parte da emissora sugadora de cérebros, estava sendo atacada. A manifestação acabou em caos total.
A emissora dos políticos mostrou para aquela parte da população, que ainda estava desacordada dos absurdos do estado, que os manifestantes eram os errados da história, que foram eles que atacaram os policiais primeiramente, e por isso, os militares precisaram usar da força física para contê-los. E muitos dos populares inertes acreditaram no que viram na TV.
Mas, o que o estado não esperava é que esses manifestantes já estavam preparados, a tecnologia já existia em suas mãos, diferentemente de 20 anos atrás. Muitos filmaram e fotografaram toda a agressividade sem motivo usada pela força policial, e usaram do maior meio de divulgação de informações do mundo, colocaram tudo na internet. E a polêmica começou. Os políticos começaram a ficar preocupados com aquele alvoroço todo. A população inerte, juntamente com aqueles manifestantes que já haviam acordado, começaram a questionar: “cadê a democracia?”, “onde estão os nossos direitos?”, “temos que acabar com a corrupção estatal!”, “policiais, vocês estão do lado errado! Afinal de contas, vocês também estão sendo roubados!”
A indignação foi crescendo em questão de dias, o estado estava desesperado, temia a força da população. A polícia não conseguia mais conter os manifestantes, eles, agora, eram em um número muito maior do que os militares, e não era apenas em uma cidade, o país inteiro começou a gritar pelos seus direitos constitucionais pelas ruas.
Até que um certo dia, o chefe do executivo não mais aguentou, cedeu a pressão popular e pediu para sair, admitindo não saber governar. Humilhado, foi julgado pelo Tribunal Superior, juntamente com todos os outros políticos corruptos e ladrões, por todos os crimes que cometeram. E assim, foram sentenciados e condenados, acabaram atrás das grades.
A população estava feliz e confiante, sabia que a partir de agora tudo seria diferente. Só entraria no governo quem eles realmente achassem ser digno de governá-los. As eleições aconteceram, e finalmente um candidato foi escolhido. Ele tinha sorriso cativante, os cabelos um pouco grisalhos, o que lhe dava certa credibilidade, tinha um discurso democrático e esperançoso. Agora sim, dessa vez, ia dar certo, o país ia mudar.
Após a sua posse no governo, o tão cativante chefe do executivo começou a rir, sem acreditar que realmente estava no cargo mais importante do país, novamente. Preferiu não causar estardalhaço com sua felicidade, não queria chamar a atenção dos mais desconfiados. Ele sabia que aquela população não tinha memória muito boa, que esqueceriam logo do escândalo que passou há muitos anos atrás, quando sentava naquela mesma cadeira. Só quem lembrava, que aquele senhor cativante e sorridente já havia sofrido um impeachment quando ocupava aquele mesmo cargo, eram os mais velhos, que não tinham mais forças para gritar suas reivindicações e mostrar a todos que um novo erro estava sendo cometido pela população.

E assim o tempo foi passando, e a população foi esperando...

(Mariana Magalhães)

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ser e dever ser


A maioria das pessoas são aquilo que a sociedade, aos poucos, lhes impôs ser. Muitos nunca tentaram ser aquilo que realmente sonharam em ser. Alguns quase tentaram ser o que desejaram ser. Poucos foram atrás do sonho de ser o que queriam ser. Mas quase ninguém conseguiu ser e continua sendo o ser que, um dia, sonhou em ser.

(Mariana Magalhães)

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Sociedade do amor moderno

Era mais um dia comum. Carros buzinando janela afora, o Sol saindo quente como sempre, o despertador tocando sem atraso e incessantemente, mas ele estava feliz. Estava se sentindo bem, não via a hora de chegar ao trabalho. Estava apaixonado, à muito tempo não se sentia assim. Escolheu sua melhor gravata, passou perfume. Enfrentou o barulho rotineiro das ruas, a lotação do ônibus, o lixo espalhado pelas calçadas, mas não ligava para nada, independente do que acontecesse o seu sorriso não sairia do rosto.
Adentrou a grande sala refrigerada do escritório, lotada de divisórias que separavam o espaço em várias mini salas. A tensão local, com os prazos a serem cumpridos, contaminava todo o ambiente, menos a ele. Tinha descoberto o melhor escudo contra o estresse. 
Toca uma mensagem em seu celular. Seu coração vai à boca, pensa: "é ele".
"Nos encontramos no restaurante de sempre, às 19:30?". Ele solta um sorriso bobo, disfarçadamente olha para a sala de seu chefe, sorri para ele e aponta para que ele olhe o celular. "Claro, já estou com saudades". Após ler a mensagem, seu chefe, balançando a cadeira em que estava sentado, responde a mensagem com um sorriso solto e morde o lábio inferior da boca.
O dia passa rápido, ele olha ansioso para o relógio. Às 19 horas levanta rapidamente e vai direto para o restaurante, queria pegar a melhor mesa do lugar. A noite era importante, tinha o pedido a fazer. Dentro de uma caixinha, que guardava no bolso, tinha uma cópia da chave de sua casa. Pretendia chamar seu amado chefe para ir morar com ele.
As horas passam rápido. Já eram quase 20 horas e nada dele aparecer. O garçom já tinha lhe perguntado três vezes se gostaria de fazer seu pedido. Resolveu ligar, mas ninguém atendia. Preocupado, decidiu caminhar de volta até o escritório. Mas não precisou andar muito. Um beco próximo ao restaurante estava interditado pela polícia.
Quando viu aquela cena, teve um mau pressentimento. Foi, rapidamente, perguntar ao policial o que estava acontecendo. "O cara foi espancado até a morte. Pelo terno, suspeito que deve ser algum executivo. Tem algumas testemunhas falando que ele apanhou porque era gay."
Um frio congelou completamente sua barriga de uma forma descomunal. Sentiu enjoo, segurou para não passar mal. Saiu correndo em direção ao beco interditado, o policial tentou impedi-lo, mas não conseguiu. Então, aquele seu pressentimento ruim foi confirmado, era ele, seu amado chefe. De repente, toda sua felicidade foi embora, em questão de segundos.
No dia seguinte, seu querido e amado chefe, seria capa do jornal, pintado como mais uma vítima da moderna sociedade democrática.
(Mariana Magalhães)

terça-feira, 30 de abril de 2013

Relato de um rato encurralado e traído

BASEADO EM FATOS REAIS (este é um relato que fiz sobre um incidente vivido há não muito tempo, enquanto fui um rato n'uma noite belorizontina)

"Eu era um ratinho de boas. Morava num buraco na parede, estilo Jerry. Dai um dia fiquei amigo de um gato. Foi do nada, inesperado. Eu estava num canto da parede choramingando problemas com Rita, minha rata. E dai um gato apareceu sorrateiro, atrás de mim. Eu me assustei, claro, e saí correndo, porém não saía do lugar. Ele estava me segurando, prendendo meu rabo no chão com uma pata grande, gorda e peluda. E daí ele disse, com uma voz arrastada, rouca, doce: 'não foge não. eu vivo fugindo porque os gatos descobriram que eu sou vegetariano e não gosto de atormentar os ratos.' Eu fiquei muito desconfiado, mas naquele momento pensei que não tinha nada a perder se fosse uma arapuca, então começamos a conversar sobre essas coisas de estar de fora das coisas. Foi assim que fiquei amigo do gato. O nome dele era Bibs. Então Bibs e eu estávamos sempre juntos. Um dia eu estava caminhando por aí, lamentando que Bibs ia embora porque fora vendido e coisa e tal (era de raça rara e a dona aceitara vendê-lo para comprar drogas ou pagar alguma outra coisa suja, pelo que ouvi). Enfim. Daí os outros gatos me cercaram e eu sabia que ia morrer. Então Bibs apareceu. Eu olhava pra ele e sabia que ele ia me ajudar. Os outros gatos continuaram me apertando, fechando o cerco, e eu olhava para Bibs e ele simplesmente não fez nada. Bibs ficou lá, parado, depois deu as costas e foi-se embora. Eu consegui escapar dos gatos malditos, daqueles gatos pretos macabros de olhar esquisito unicamente graças à minha agilidade e ao lapso de coragem que tive naquela hora. Nunca mais ouvi falar de Bibs. Tomara que a família nova dele seja legal."

(Mariana Pio, num momento de rato).

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Um dia me falaram que vivíamos em uma democracia...

Sempre que alguém traz à tona a questão do casamento homoafetivo, e o intitulam como 'uma questão complicada', a mesma pergunta paira em minha cabeça: Como o casamento homoafetivo pode afetar TANTO a vida daqueles que se dizem contra, a ponto de insistirem na alegação de sua proibição?
Ninguém nunca soube me responder, mas sempre associei a resposta dessa pergunta com uma simples frase: 'aquele que proíbe a felicidade alheia, provavelmente, dela tem inveja'.
Nessas horas, fico lembrando que entre essas tantas pessoas que são contra o casamento gay, existem muitos que fazem questão de se vangloriar de um dia terem feito parte da conquista brasileira pela liberdade de expressão na época da ditadura militar, ou também, daquelas tantas mulheres que tem orgulho de dizer que venceram o preconceito e alcançaram o poder de votar, como também, a equidade no mercado de trabalho; e mesmo depois de terem sofrido tantos tipos de repressão e/ou preconceito, têm a coragem de falar, para quem quiser ouvir, que os homossexuais não tem direito a se casarem civilmente, ou a muito menos, se amarem publicamente.
Essa disparidade, em minha opinião, tem um nome muito conhecido e bem simples: hipocrisia. 
Não sou uma pessoa contra religiões, eu mesma tenho a minha, mas sou contra os ideais de todo o tipo de religião, crença, seja lá o que for, que tente minimizar uma pessoa por ser diferente do que eles acham que é certo. Me desculpem, mas quem justifica a proibição do casamento gay porque é pecado ser gay? Pra mim, é o mesmo que falar 'a resposta é não, porque eu disse que não', parece menino pequeno fazendo birra. 
Até onde eu sei, pelo meu simples conhecimento de vida (e nem digo como uma estudante de Direito), o Brasil é um estado laico, e todos devem ser tratados e respeitados de forma completamente igualitária, independente de cor, credo, religião, etc. 
Logo, é possível chegar a seguinte crítica: se todos devemos respeitar aquele que escolhe sua própria crença religiosa, porque não é possível respeitar a escolha sexual de cada indivíduo? Cadê o estado laico brasileiro que separa religião de direitos e política? Cadê a igualdade social na proibição do casamento somente para os homossexuais?
Pra mim, não existe nada mais claro do que justificar todas essas perguntas com a palavra 'preconceito'. E esse, é o maior retrocesso que qualquer Estado, que se diz Democrático de Direito, pode ter.
O desabafo é real, e tenho certeza que não é uma revolta apenas minha, e espero que com essas poucas palavras, eu consiga transmitir um pouco da minha indignação com a falta de respeito que existe na sociedade brasileira, e em muitos graus diferentes, não apenas com os homossexuais.
Peço que, aquele que possua alguma justificativa plausível para a proibição do casamento homoafetivo, por favor, se manifeste quanto a esse texto. Porque, pelo visto, se existe alguma justificativa, sou realmente uma pessoa muito alienada do mundo para não conhecê-la. 
É... Cheguei a uma conclusão, no mínimo, irônica. Simplesmente me tornei intolerante à intolerância alheia sobre a igualdade social.

(Mariana Magalhães)