Augusto era
um menino nascido em um berço pobre, foi concebido por acidente, nunca foi
desejado por seus pais. Ele nasceu em um dia de chuva e enchente na favela. Sua
mãe nunca ligou muito para ele, viveu seus primeiros sete anos de vida com sua
avó materna, que ralava dobrado para alimentar o menino. Seu pai, sem ensino
médio completo, cansado de procurar um emprego e de ver os riquinhos com seus
carros blindados, fechando as janelas em sua cara fingindo que ele não existia,
tomou uma decisão. Foi até a casa da avó de Augusto. Depois de uma discussão
ferrenha, com direito a algumas agressões físicas, aquela velha senhora
desistiu de tentar, e o menino foi arrastado, em prantos, pelo pai. No dia seguinte,
Augusto estava dormindo em um papelão na calçada da rua, tremendo de frio e
implorando por um trocado, entre os carros fortes habitados com pessoas amedrontadas
o suficiente para não perambularem a pé pelas ruas.
Quando alcançou
seus 12 anos de idade, cansado de ser espancado e explorado pelo pai, criou
postura e se decidiu. Esperou que seu pai apagasse, depois de ter bebido todo o
dinheiro que Augusto havia 'esmolado' durante o dia. Lotado de raiva por não
ter o que comer, pegou um pedaço de pau que estava largado na rua e começou a
sessão de espancamento em seu pai, começou a descontar todo aquele ódio
reprimido e doído. E assim o fez, até o momento em que teve certeza de que ele
não estava mais respirando. Por alguns minutos, permaneceu ali, parado,
ofegante e em silêncio, deixou uma lágrima fugir de seus olhos. Ouviu o barulho
dos trovões e percebeu que deveria fugir dali. Achou um viaduto onde moravam
alguns vários drogados sem rumo, e decidiu que aceitaria um pouco daquele pó
que lhe ofereceram, precisava disfarçar aquela fome que causava dor em seu
estômago.
Quatro anos
depois, já não parecia mais ser o mesmo, estava magro demais, e agora, andava
armado. Um dia desses, se viu no desespero, encontrou-se completamente sem
dinheiro para comprar um pouco de cocaína. Olhou para o outro lado da rua e viu
uma menina que corria para fugir da chuva que começara. Decidiu que dela
tiraria o sustento momentâneo para o seu vício. Apontou a arma para ela,
ordenou que passasse sua bolsa e que não gritasse. Mas ela gritou. Chamou a
atenção de dois policiais parados na esquina. Augusto não havia parado para
olhar se haviam outras pessoas por perto, esse foi seu maior erro. De repente,
sua arma disparou, ficou em choque ao ver o sangue que se misturava com a água
da chuva no meio da calçada. Começou a correr, não olhou para trás, mas sabia
que estava sendo perseguido. Em meio a um disparo, sentiu uma forte dor no peito,
ficou sem fôlego. Caiu de joelhos no chão. Viu, novamente, sangue se misturando
com a chuva pelo chão. Se deitou, não conseguia mais se mover. Chorou como no
dia em que nasceu, mas, dessa vez, seus gritos foram em vão, ficaram abafados
pelo barulho da chuva e dos trovões. Foi fechando os olhos devagar. Finalmente,
em meio à solidão, sentiu que poderia descansar em paz.
(Mariana Magalhães)
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