sábado, 30 de janeiro de 2016

Em tempos de extremismos...

Você já ouviu alguma frase parecida com estas?
- Hum... Meio gorda, não faz o meu tipo.
- NOSSA! MACHISTA! VIVE EM UMA SOCIEDADE COM PADRÃO DE BELEZA INEXISTENTE!

- Ah, não tenho preconceito com gays, só não quero que “cheguem” em mim.
- Calma lá, tio. Você não é essa coca-cola toda, tá? Homens que curtem homens não “chegam” em homens que curtem mulheres.

- Não, ela não faz o meu tipo. Muito Barbie. Deve ser muito fútil, só deve pensar em roupa. Mulher bonita assim não pode ser inteligente.
- Ok, hippister. Pode parar por ai? Quem disse que mulher bonita não é inteligente? Tem que ser um ou outro?

- Você viu que aquele cara disse que não concorda com o aborto!? RIDÍCULO! Deve ser um evangélico surtado! Só pode! MEU CORPO, MINHAS REGRAS! Mato um machista desses!
- Ow, que isso! Feminismo também tem limite! Calma lá com os seus preconceitos, para tentar defender os seus direitos!

- ESSES PETISTAS DE MERDA! É por isso que o Brasil não anda pra frente! QUERO DITADURA DE NOVO! Pra colocar todos esses marmanjos no devido lugar deles! VAI TRABALHAR, VAGABUNDO!
- Opa! Pera lá, companheiro. Quem disse que só o PT tá fodendo o Brasil? Você colocaria a mão no fogo pelo SEU partido? Hum? Colocaria?

Enfim... Essa lista continua. Se você, assim como eu, já viu frases similares a essas por aí (atualmente, de forma pesada pelas redes sociais), vai concordar que pontos de vista merecem sim ser respeitados, mas as coisas ultrapassaram o limite. Há muito tempo!
Em ordem de ter o SEU direito respeitado, as pessoas começaram a desrespeitar o direito do PRÓXIMO.
Apesar do fato de eu ter me formado no curso de Direito e pra mim a frase abaixo ser algo normal de se perceber, acho que é um senso comum a seguinte frase: “O seu direito acaba onde o do outro começa”. Simples assim.
Contudo, apesar da obviedade desta sentença, a conexão dela com a coerência do convívio humano está longe de existir.
Tenho a sensação que o aumento do acesso à informação, como no mundo em que hoje vivemos, prejudicou, em muito, a inteligência das pessoas. As informações são tantas, vinte e quatro horas por dia pipocando em nossas cabeças, que simplesmente esquecemos o que é, de fato, certo ou errado.
O que, tristemente, me parece, é que os indivíduos esqueceram pelo o tanto que a humanidade lutou para ter esse espaço em que várias opiniões podem ser discutidas no mesmo lugar. PELA LIBERDADE DE EXPRESSÃO. Simplesmente olvidaram.
E por isso, agora vivemos em uma onda TOTAL de intolerância!
O gay não tolera o hetero, o negro não tolera o branco, o de direita não tolera o de esquerda, o de classe baixa não tolera o de classe média ou alta... Essa lista está quase infinita.
E essa intolerância está tão clara, nítida e absurda que os meios de comunicação tecnológicos (mídias sociais) que vieram para unir as pessoas em qualquer lugar do mundo, as está separando, cada vez mais.
Se alguém faz um comentário em um grupo, que pode soar machista ou feminista demais, esse indivíduo é levado à praça pública para tomar chibatadas virtuais e, posteriormente, ser banido daquele mundo que não aceita o diferente.
Que ironia, não? Lutamos tanto para ter um mundo com uma aceitação maior dos “diferentes”. E agora são os “diferentes” que, também, não aceitam o “normal”.
Ó Céus, onde vamos chegar? Aqueles que foram a vida inteira humilhados e não aceitos na sociedade, deveriam, agora, dar o exemplo e mostrar que todos podem viver bem em sociedade. Mas não, é mais fácil mostrá-los como é difícil ser alguém excluído.
Obviamente, sei que não posso generalizar. E nem estou. Graças a Deus, pois eu sei que NEM TUDO está perdido. Sei que existem BELAS exceções a essa louca regra geral que estou a apontar.
 Povo, posicionamentos são importantíssimos para a vida de um ser humano e são com eles que construímos o nosso caráter. Só que jamais podemos esquecer que nem sempre o nosso pensamento será igual ao do colega que senta ao nosso lado do ônibus. Por isso, cuidado ao se expressar e ao criticar quem se expressa.
E LEMBRE-SE SEMPRE: “O seu direito acaba onde o do outro começa”.

(Mariana Magalhães)

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Dona Alda das Ruas

Era meio-dia e o Sol rachava as carecas daqueles mais desprovidos de cabelos. Se olhássemos para o final da rua, era possível ver o calor subindo do asfalto, quase causando uma miragem. Todos andavam pela rua apressados com a necessidade de fugir do calor de quase 40 graus, com a sensação térmica de quase 50. Há dias não caia uma gota de água do céu. O azul quase cegava os olhos, não havia uma nuvem sequer para amenizar a temperatura que fazia na cidade. O verão estava apenas começando e as pessoas já não viam a hora da chegada do inverno.
Dona Alda era uma senhora que aparentava ter os seus 70 anos de idade, mas era algo que ficava apenas na suposição, pois nem a própria Dona Alda sabia realmente quando havia nascido. Ela não possuía sequer uma carteira de identidade, aliás, nunca teve documento algum que determinava ao menos qual era o seu nome. Desde que se entende por gente ela vive nas ruas, sem pai e sem mãe, jamais soube se possuía irmãos. Ela era uma dessas guerreiras que já havia feito de tudo para conseguir um pão para se alimentar. Ela era negra, vestia um vestido meio rasgado, mas que era suficiente para esconder suas partes vergonhosas. O seu cabelo era Black Power, que já tinham mais fios brancos do que pretos, e, para acompanhar o penteado natural, ela encaixava um pente aos seus cachos bem definidos. Ela era magra, altura mediana e andava sem pressa pelas ruas para achar uma pequena sombra para se aliviar do calor. Assim que encontrou, logo largou suas trouxas de lado e se sentou no meio fio.
Depois de tantos anos sobrevivendo sozinha pelas ruas, Dona Alda já havia adquirido o hábito de conversar consigo mesma em voz alta, não mantinha um pensamento se quer para si mesma. As pessoas andavam pela rua e a encaravam com facetas assustadas, provavelmente supondo ser este um hábito de uma pessoa louca. Muitos até atravessavam a rua para não ter que andar próximos demais àquela velha maluca. Dona Alda não dava a mínima para esses “enrrustidos”, como ela mesma os chamava. Apesar de não possuir uma casa, um carro, um emprego para chamar de seu, Dona Alda sabia que sua liberdade era algo que ninguém poderia tirar dela. Mais do que qualquer outra pessoa, ela era extremamente segura de si e de sua vida, não temia nada e nem ninguém.
Após alguns minutos sentada no meio fio, falando consigo mesma e admirando os engravatados que passavam à sua frente suarem até a última gota de água que possuíam no corpo, Dona Alda se levantou calmamente e em menos de 5 segundos, em um movimento único, retirou o seu vestido, deixando seu corpo nu em pelo, e voltou a se sentar no chão. Neste momento, Dona Alda cruzou suas pernas magras, encontrou dentro de sua sacola uns cigarros picados e acendeu um. Recostou um de seus braços para trás, descansou a mão que segurava o cigarro em seu joelho e continuou a admirar os loucos da cidade.
Algum tempo depois, começou a perceber que as pessoas que estavam a sua volta iniciaram uma pequena aglomeração para escandalizarem sobre a cena que Dona Alda estava causando. Calmamente, ela se levantou do chão, deu uma longa tragada em seu cigarro, soltou a fumaça em uma sequência de prazer e disse:
- O que é que foi, gente? Nunca viram muié pelada não, é? – Sua risada em seguida foi histérica.
Uma mulher se aproximou dela e disse baixinho perto de seu ouvido:
- A senhora precisa se vestir. Não pode ficar sem roupa pela rua, desse jeito... – olhando Dona Alda de cima a baixo, limpou sua garganta e continuou – mostrando suas partes íntimas para todo mundo...
A mulher sequer havia terminado sua frase, quando Dona Alda logo a interrompeu e, agora, com uma voz irritadiça e estridente, gritou:
- NESSE CALÔ DU CARALHO, CÊS ACHAM MEMO QUE EU FICÁ COM AS ROPA NO CORPO? EU NUM SÔ LOCA IGUAL A CÊS TUDO NÃO! QUERO VÊ QUEM VAI ME FAZER COLOCÁ AS ROUPA DE NOVO! QUERO VÊ QUEM É O DOIDO QUE VAI SE ATREVÊ A TENTÁ! – Soltou em seguida mais uma risada histérica.
No fundo do aglomerado, que agora estava maior, surge uma voz masculina:
- Então, vamos ter que chamar a polícia para prender a senhora! Isso é uma falta de respeito!
Nesse momento, Dona Alda finalizou o seu cigarro, jogou o toco que sobrara no chão e o apagou com os pés descalços.
- Ocês acham memo que algum puliça vai me fazê coloca as ropa no corpo? – sua risada, neste momento, era mais do que histérica, era assustadora – QUERO VÊ OS HOMI ME MANDAREM BOTÁ AS ROUPA! QUERO VÊ! CHAMA AÍ! CHAMA! QUERO VÊ!
Depois de alguns segundos rindo em sequência ao seu discurso inquietante, calmamente, Dona Alda sentou-se, novamente, no meio fio, procurou por mais um de seus cigarros na sacola, o acendeu em uma tranquilidade perturbante e voltou a fumá-lo em sua posição de meditação.
As pessoas a sua volta, com olhares horrorizados cochichavam entre si sobre o tamanho ultraje daquela senhora, mas sem saberem exatamente o que fazer. Dona Alda não se importou. Continuou a fumar o seu cigarro e a falar alto consigo mesma. As pessoas extremamente desconfortáveis e desgostosas com aquelas situação, foram se dispersando, voltando logo aos seus passos apressados para fugirem do Sol escaldante e aos seus trabalhos estressantes.
No fundo, todos sabiam que sua revolta com Dona Alda não era pelo fato dela estar pelada em público, mas pela falta de coragem que eles possuíam de fazer o mesmo que aquela velha senhora maluca estava fazendo: expressando o seu livre arbítrio dentro de uma sociedade tão proibitiva e restritiva aos direitos.


(Mariana Magalhães)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O que é a Lei da Ficha Limpa? O que isso muda na minha vida?

É bem verdade que no Brasil poucas são as pessoas que conseguem entender bem o que se passa dentro da política brasileira. Para muitos, a época das eleições é um tempo de piada, na qual desligamos a televisão no momento em que começam as propagandas políticas.
Nessa época, escolher um candidato após alguns estudos sobre os projetos e objetivos de cada um deles, e, principalmente, após avaliar a ética e a moral de cada candidato, é uma das maiores dificuldades que um cidadão brasileiro passa de tempos em tempos.
E é por isso que resolvi tentar usar os meus conhecimentos de Direito para ajudar a esclarecer algumas dúvidas, da forma mais didática possível, que pairam sobre a cabeças de muitos brasileiros.

Primeiramente, creio ser importante entender um pouco de como a Lei da Ficha Limpa (Lei complementar nº 135/10) foi criada.
Através de um Projeto de Lei de Iniciativa Popular (isso quer dizer que fomos nós cidadãos brasileiros que tomamos a decisão de requerer do Poder Legislativo a criação e promulgação dessa lei), o juiz Márlon Reis que tomou a frente deste projeto, conseguiu reunir cerca de 1,3 milhões de assinaturas por todo o Brasil para enviar este projeto para o Congresso Nacional (que é composto por duas vertentes - A Câmara dos Deputados e o Senado Federal).
Em síntese, essa lei torna inelegível (não pode ser candidato, bem como, eleito) por oito anos, um candidato/político que tiver o mandato cassado, renunciar do cargo (caso esteja ocupando algum cargo no momento) para evitar a cassação ou for condenado por decisão de órgão colegiado (com mais de um juiz - de 2ª instância até a última instância - Tribunais de Justiça, STJ e/ou STF), mesmo que ainda exista a possibilidade de recursos para reverter a decisão que condena o candidato/político no crime em que ele está sendo julgado. 
Bom, esse Projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados no dia 5 de maio de 2010 e no Senado Federal no dia 19 de maio de 2010 por votação unânime. Foi sancionado pelo Presidente da República, transformando-se na Lei Complementar nº 135, de 4 de junho de 2010. 
Ocorre que após ser dada a sanção pelo Presidente da época (Lula), a intenção era de que nas eleições daquele mesmo ano ela já fosse utilizada, o que retiraria muitos candidatos da possibilidade de prosseguirem nas eleições.
Porém, tendo em vista o artigo 16 da Constituição Federal de 1988, entendeu-se que quando ocorre qualquer alteração no processo eleitoral brasileiro, após entrar em vigor desta nova lei, os efeitos dessa modificação só poderiam ser aplicados às eleições que ocorressem após um ano da data de sua vigência.
Sendo assim, nas eleições ocorridas no ano de 2010, não foi possível a aplicação da Lei Complementar 135/10, conquistada pela vontade do povo de mudar o cenário político brasileiro.
No ano seguinte, em fevereiro de 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou a lei em questão constitucional e válida para as próximas eleições que fossem realizadas no Brasil.

Resumo:
Em um resumo simples, a Lei da Ficha Limpa foi criada através do desejo dos cidadãos brasileiros em mudar a imagem da política brasileira, por isso, ficou estabelecido em lei que aqueles candidatos que possuem condenação criminal confirmada pela 2ª instância do Poder Judiciário brasileiro, não poderão participar e nem serem eleitos para cargos políticos durante o período de oito anos.

Como você pode ficar sabendo se o seu candidato está sendo julgado ou foi julgado e condenado por algum crime?
Todos os Tribunais Eleitorais emitem certidões informando se o candidato possui ou não alguma condenação criminal eleitoral, basta que você vá até um dos Tribunais Eleitorais mais próximos de sua casa e fazer o requerimento, ou então, basta entrar no site do Tribunal Eleitoral do Estado em que você mora e procurar por maiores informações de como obter esse tipo de informação.
De qualquer maneira, acompanhar as notícias dos jornais e das mídias sociais (cuidado! procure sempre averiguar os fatos divulgados pela internet, muitos podem não ser verídicos) são sempre uma excelente maneira de estar atualizado sobre a situação política do país, assim como, sobre a vida de seu candidato, se ele está sendo investigado por algum órgão judicial ou não.

Creio que com um entendimento um pouco mais esclarecido sobre essa lei, seja possível começar a enxergar o cenário da política brasileira de um forma um pouco mais clara, mostrando que a vontade popular pode sim fazer a diferença, como fez no momento em que manifestou sua vontade em criar uma lei que estabelecesse regras mais claras e limpas para a política brasileira.

O importante agora é estudar bem os problemas sociais e econômicos do Brasil, assim como, da região em que você mora, analisar com cautela as propostas de cada candidato e, no dia da eleição, ter a certeza que você está votando com consciência e ajudando a melhorar o Brasil da forma mais eficaz possível - pelas urnas!

(Mariana Magalhães)

sexta-feira, 9 de maio de 2014

#SomosTodosHipócritas

Maria das Graças morou a vida inteira em São Paulo, tem 35 anos, casada desde os 18 anos de idade, teve seu primeiro filho aos 14 anos, é negra e empregada doméstica.
Trabalhadora como muitos brasileiros, acorda sempre às 4 horas da manhã, de segunda a sábado, pega dois ônibus e o metrô para chegar ao trabalho em ponto, sempre às 06:30 da manhã, em tempo de levar o pão fresquinho para o café da manhã de sua patroa.
Seu dia sempre é agitado, lava, passa, cozinha e cuida das crianças, mas mesmo como todos estes afazeres consegue achar um tempo para ouvir as notícias do dia, sempre gostou de se manter atualizada com as novidades.
Entre o pano que passava no chão e o arroz que deixou cozinhando na panela, foi surpreendida com uma notícia que saia no jornal: #SomosTodosMacacos” era a manchete do dia. Viu que um jogador de futebol negro e famoso havia sido insultado em um jogo, por ter recebido uma banana jogada aos seus pés durante uma partida com o intuito de insulta-lo, chamando-o de “macaco”.
A simpatização da sociedade com este jogador se espalhou pelo mundo exatamente como um vírus, todos comentavam, postavam o hashtag e compartilhavam fotos comendo bananas para apoiar a causa contra o preconceito.
A notícia deixou Maria paralisada por alguns minutos, tempo este suficiente para deixar o arroz queimar.
Maria sempre  sofreu pelo fato de ser negra. Já havia sido chamada por nomes insultantes de todas as categorias imagináveis, mas nem por isso aquele que a insultou, havia sofrido as consequências dos atos de tentar rebaixá-la pela cor da pele que ela possuía.
Mas com aquela notícia Maria começou a pensar que o mundo estivesse realmente começando a mudar. Começou a se sentir esperançosa o suficiente para pensar que seus filhos poderiam viver em um mundo um pouco melhor, em um mundo que estivesse começando a respeitar as pessoas por simplesmente serem pessoas, e não por terem a pele com a cor mais clara que a de outro indivíduo.
Ela estava feliz com o que estava acontecendo no mundo naquele momento. Com a vontade das pessoas em compartilharem de sentimentos de sofrimento e preconceito, ela estava, finalmente, se sentindo menos sozinha no mundo.
O dia de Maria seguiu corriqueiramente e assim que sua patroa chegou em casa, ela se encaminhou para o ponto de ônibus para voltar para a sua casa, para os seus filhos e marido.
Acontece que Maria mora em uma cidade com alto índice de violência e, independente da pessoa, um dia todos sofrem com a pressão da sociedade reprimida, inclusive os que são reprimidos.
Ela estava no ponto de ônibus, segurava firmemente sua bolsa de baixo dos braços e aguardava ansiosa pelo primeiro ônibus que pegaria para completar o longo trajeto até a sua casa.
Quando menos esperava, percebeu que estava rodeada de meninos, que tinham por volta de 17 anos de idade, todos riam alto, falavam palavrões, eram brancos, se vestiam bem e a encaravam a todo o momento.
Maria começou a se sentir incomodada e preocupada, olhava para o seu relógio incansavelmente, até que um deles se manifestou em alto e bom tom:
- E ai pretinha, seu ‘busão’ tá demorando, é? – todos soltaram risadas calorosas. – Cuidado, hein… Tá tão escuro que é capaz do motorista não te enxergar e não parar o ônibus pra você…
As piadas continuaram por algum tempo, até que Maria resolveu tentar “colocar” um pouco de juízo na cabeça daqueles meninos:
Olha aqui, menino! Sua mãe não te deu educação, não é?…
Mas antes que Maria pudesse falar qualquer outra coisa, sentiu uma mão pressionando sua boca, sufocando-a por alguns momentos. Sua bolsa foi arrancada de seu braço e seu corpo, rapidamente, atirado ao chão.
Durante alguns minutos, Maria foi vítima de diversas formas de agressões, tanto físicas como verbais. Mas o que mais lhe doía era saber que toda aquela esperança que havia crescido dentro dela mais cedo naquele dia, havia morrido completamente naquele momento.
De repente, um barulho de um ônibus se aproximando foi se tornando cada vez mais evidente aos ouvidos de Maria e, como ele, os meninos desapareceram, como em um piscar de olhos.
Maria não conseguiu se mover para pedir ajuda, então, respirou fundo e deixou os faróis do ônibus cegarem seus olhos.
(Mariana Magalhães)
Texto postado originalmente na coluna Crônicaria de Bolso da Revista FRIDAYClique aqui para ver!

domingo, 20 de abril de 2014

Meu caderno de rabiscos

Ei! Psiu! Tá acordado? Espero que sim... Estou assoprando a poeira que está em cima da sua capa, preciso de você agora.
Quero me desculpar e me explicar por ter te deixado de lado por tanto tempo... Pode ser?
Eu sei que posso, você sempre me escutou, sempre me apoiou em todos os momentos, sejam eles os melhores que vivi até os mais obscuros...
Bem, divagações a parte, aqui começo o meu pedido de desculpas.
Acontece, meu bem, que eu estou naquela maldita fase da vida que absorve todo o nosso tempo e mais um pouco, aquela fase na qual ficamos sempre ansiosos, torcendo para que passe rápido toda essa loucura, porém, quando eu ficar mais velha, sei que vou desejar que o tempo retorne para esta exata época. (Malditos sejam os nossos sentimentos... Nos enlouquecem, um pouquinho, todos os dias.)
É isso mesmo... Essa coisa de crescer me pareceu sempre muito distante, mas de repente, ela apareceu derrubando a minha porta, exigindo um diploma, minha aprovação na OAB e um emprego me esperando.
Pois é... Você acredita que cheguei até aqui? Eu ainda estou absorvendo esta ideia.
O pior é que eu não havia notado o tamanho do meu desespero com tudo isso, não tinha analisado a situação em seu inteiro teor, não até este exato momento.
Subitamente, me encontrei chorando incessantemente, mas sem saber o exato por que, e é exatamente por isso que estou aqui, resolvi recorrer a você, meu querido. 
O único que consegue me fazer respirar normalmente e a colocar todos os meus pensamentos em ordem novamente. 
Você, que nunca falhou, nunca me deixou na mão, em momento algum. 
Você, que sempre me acompanhou em todos os lugares que eu ia, que nunca saiu da minha bolsa, e que, mesmo depois deu ter te largado, como um brinquedo velho e quebrado, por um longo período, na prateleira empoeirada do quarto, aqui está você, novamente e como sempre, me ouvindo, me apoiando e me ajudando a entender toda essa loucura que corre nas minhas veias e que faz a minha cabeça pulsar de uma forma na qual nem o meu neurologista consegue explicar.   
Só você. O único que consegue colocar minha mente de volta em seu devido lugar.
Sabe... Eu não seria nada sem você. Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que você foi o melhor guia que eu pude ter e sempre terei, para o resto da minha vida.
Sei, também, que nunca te agradeci por nada, com as devidas palavras de eterno agradecimento por todos os seus ensinamentos, mas acho que nunca foi preciso, esse sentimento sempre esteve implícito.
De qualquer forma, meu querido, deixarei agora, de forma explícita, todo o meu sentimento de gratidão por ter você sempre comigo, não importa o que aconteça, aqui e agora.
Você acalanta meu coração de uma forma que nenhum remédio jamais conseguirá fazer.
Você escuta os meus prantos da forma que ninguém jamais conseguiu ouvir.
Você organiza e alivia a minha mente de uma maneira surpreendente, na qual eu jamais conseguiria fazer sozinha.
Você é minha força, meu refúgio, meu eu verdadeiro e com toda a sua pureza.
Me perdoe pela minha grande ausência, mas prometo que não ficarei mais tanto tempo sem escrever para você.
Obrigada por apagar meus medos e acalmar meu coração, novamente.

Como todo o meu amor,

Sua eterna escritora.

(Mariana Magalhães) 

segunda-feira, 31 de março de 2014

sobre abismos.

era uma paisagem bonita, sombria, desértica. o solo tinha secado e tava trincado. eu podia ver onde o chão virava abismo, longe ainda de onde eu tava. eu não fazia idéia de como fora parar ali, e mal me lembrava do meu último momento de consciência (aspas). no meu íntimo, lembrei das falésias lá da minha terra; na última vez que fui lá, a lagoa tinha secado - nada de banho de vida pra nós. enfim, daí eu caminhava errante por aquele lugar estranho, mas curiosamente familiar. o sol tava a pino, e eu, que detesto calor, mal percebi. essas coisas já não importavam muito, considerando as circunstâncias. eu tinha de saltar; tinha de chegar do outro lado. não queria pensar ou planejar nada a respeito, mas minha cabeça... barulhenta como é... um insight, sobre um episódio da minha vida, cronologicamente não muito distante dali: depois das crises-de-relação ("coisa mais terrena", pensava eu...) ela e eu concluímos que eu não era intensa o suficiente, não acompanhava o ritmo; e nem ela conseguiria ser leve como eu. então foi naqueles tempos que eu entendi que sou grande demais, meu coração, minha alma, são grandes demais; eles parecem nem caber no meu corpo físico, eles são grandes demais, grandes demais, fortes demais, maiores, são muito... eu sou é extensa! (e o que pode ser mais intenso que isso?). posso quase voar; não tava presa em nada daquilo tudo, daquele nada. era assustador, e eu amo adrenalina, e me lembrei que sou assim, desse jeito que quase esqueci que sou, e então só caminhei e logo tava do outro lado. atravessei mais um abismo, em toda a minha extensão, porque a dele se tornou irrelevante, em perspectiva. é assim que se atravessa abismos.






(mariana pio)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O caminho das cores

Tudo que é colorido,
com o tempo,
se desbota com o esquecimento
E depois de cair em total desalento
se dissolve em pedaços
se reconstrói em pequenos passos
aos poucos,
vai se reencontrando
se refazendo em novos traços.

(Mariana Magalhães)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

soluços de melancolia

Melancolia trouxe o fim do mundo. Talvez ele se reconstitua em algum momento, provavelmente não tão próximo, mas quiçá. Não custa tentar deixar essa faísca acesa... Já não tenho mais nada a perder.

 ...

Enquanto o mundo continua girando, o cotidiano continua açoitando. Meus olhos embaçados viram um mendigo na calçada, através da janela do ônibus-nosso-de-cada-dia. Meu mau hábito de colocar tudo em perspectiva... Lars me ensinou que o fim do mundo é uma coisa diferente pra cada pessoa. Perspectivas, subjetividades, aquela coisa toda... Maldito!

...

E, além de tudo, tenho que vir trabalhar e fingir que escrevo alguma coisa sobre o louco infrator ou algo que o valha... Tipo Adèle com as criancinhas; tentando vencer a Lei da Inércia, tentando me colocar em movimento sem nenhum impulso.

...

Verde é a cor mais quente. Cada vez mais fria.

(Mariana Pio)

domingo, 15 de dezembro de 2013

Exame da OAB

Tício, Caio e Mévio são grandes amigos e cursam o último ano do curso de Direito. Tício está muito nervoso, pois neste domingo realizará, assim como seus amigos, a prova objetiva do exame de ordem da OAB. Caio e Mévio estão tranquilos, sabem que estudaram o curso inteiro, por isso, não há com o que se preocupar. Tício não compreende a calmaria de seus amigos e começa a indagá-los tentando fazê-los compreender como a prova não é simples, já que serão cobradas nas questões objetivas matérias que foram vistas desde o início do curso até o final, por isso, seria impossível lembrar de tudo o que já haviam estudado. Caio e Mévio começam a pensar sobre o que Tício estava lhes dizendo, e subitamente, começam a entrar em total parafuso com a prova que irão realizar.

Diante do caso concreto descrito acima, escolha a alternativa que define CORRETAMENTE o crime cometido por Tício:

a)       A)  Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio – artigo 122 do Código Penal
b)       B) Dano – artigo 163 do Código Penal
c)       C) Atentado contra a liberdade de trabalho – artigo 197 do Código Penal
d)       D) Extorsão – artigo 158 do Código Penal



Resposta correta: A

(Mariana Magalhães)

Brincadeiras a parte, quero desejar a todos os meus colegas de curso que realizarão a prova da ordem daqui a pouco, assim como eu, uma excelente prova! Lembrem-se, não chegamos no 10º período sem motivo algum, todos somos capazes de realizar essa prova com tranquilidade e sucesso!
Então, que venha o exame da Ordem!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Procura-se erro

um poeminho:

Procura-se erro
Como equação matemática
Em que dois negativos
Somam em um positivo.
Erre comigo

(Mariana Pio)