terça-feira, 30 de abril de 2013

Relato de um rato encurralado e traído

BASEADO EM FATOS REAIS (este é um relato que fiz sobre um incidente vivido há não muito tempo, enquanto fui um rato n'uma noite belorizontina)

"Eu era um ratinho de boas. Morava num buraco na parede, estilo Jerry. Dai um dia fiquei amigo de um gato. Foi do nada, inesperado. Eu estava num canto da parede choramingando problemas com Rita, minha rata. E dai um gato apareceu sorrateiro, atrás de mim. Eu me assustei, claro, e saí correndo, porém não saía do lugar. Ele estava me segurando, prendendo meu rabo no chão com uma pata grande, gorda e peluda. E daí ele disse, com uma voz arrastada, rouca, doce: 'não foge não. eu vivo fugindo porque os gatos descobriram que eu sou vegetariano e não gosto de atormentar os ratos.' Eu fiquei muito desconfiado, mas naquele momento pensei que não tinha nada a perder se fosse uma arapuca, então começamos a conversar sobre essas coisas de estar de fora das coisas. Foi assim que fiquei amigo do gato. O nome dele era Bibs. Então Bibs e eu estávamos sempre juntos. Um dia eu estava caminhando por aí, lamentando que Bibs ia embora porque fora vendido e coisa e tal (era de raça rara e a dona aceitara vendê-lo para comprar drogas ou pagar alguma outra coisa suja, pelo que ouvi). Enfim. Daí os outros gatos me cercaram e eu sabia que ia morrer. Então Bibs apareceu. Eu olhava pra ele e sabia que ele ia me ajudar. Os outros gatos continuaram me apertando, fechando o cerco, e eu olhava para Bibs e ele simplesmente não fez nada. Bibs ficou lá, parado, depois deu as costas e foi-se embora. Eu consegui escapar dos gatos malditos, daqueles gatos pretos macabros de olhar esquisito unicamente graças à minha agilidade e ao lapso de coragem que tive naquela hora. Nunca mais ouvi falar de Bibs. Tomara que a família nova dele seja legal."

(Mariana Pio, num momento de rato).

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Um dia me falaram que vivíamos em uma democracia...

Sempre que alguém traz à tona a questão do casamento homoafetivo, e o intitulam como 'uma questão complicada', a mesma pergunta paira em minha cabeça: Como o casamento homoafetivo pode afetar TANTO a vida daqueles que se dizem contra, a ponto de insistirem na alegação de sua proibição?
Ninguém nunca soube me responder, mas sempre associei a resposta dessa pergunta com uma simples frase: 'aquele que proíbe a felicidade alheia, provavelmente, dela tem inveja'.
Nessas horas, fico lembrando que entre essas tantas pessoas que são contra o casamento gay, existem muitos que fazem questão de se vangloriar de um dia terem feito parte da conquista brasileira pela liberdade de expressão na época da ditadura militar, ou também, daquelas tantas mulheres que tem orgulho de dizer que venceram o preconceito e alcançaram o poder de votar, como também, a equidade no mercado de trabalho; e mesmo depois de terem sofrido tantos tipos de repressão e/ou preconceito, têm a coragem de falar, para quem quiser ouvir, que os homossexuais não tem direito a se casarem civilmente, ou a muito menos, se amarem publicamente.
Essa disparidade, em minha opinião, tem um nome muito conhecido e bem simples: hipocrisia. 
Não sou uma pessoa contra religiões, eu mesma tenho a minha, mas sou contra os ideais de todo o tipo de religião, crença, seja lá o que for, que tente minimizar uma pessoa por ser diferente do que eles acham que é certo. Me desculpem, mas quem justifica a proibição do casamento gay porque é pecado ser gay? Pra mim, é o mesmo que falar 'a resposta é não, porque eu disse que não', parece menino pequeno fazendo birra. 
Até onde eu sei, pelo meu simples conhecimento de vida (e nem digo como uma estudante de Direito), o Brasil é um estado laico, e todos devem ser tratados e respeitados de forma completamente igualitária, independente de cor, credo, religião, etc. 
Logo, é possível chegar a seguinte crítica: se todos devemos respeitar aquele que escolhe sua própria crença religiosa, porque não é possível respeitar a escolha sexual de cada indivíduo? Cadê o estado laico brasileiro que separa religião de direitos e política? Cadê a igualdade social na proibição do casamento somente para os homossexuais?
Pra mim, não existe nada mais claro do que justificar todas essas perguntas com a palavra 'preconceito'. E esse, é o maior retrocesso que qualquer Estado, que se diz Democrático de Direito, pode ter.
O desabafo é real, e tenho certeza que não é uma revolta apenas minha, e espero que com essas poucas palavras, eu consiga transmitir um pouco da minha indignação com a falta de respeito que existe na sociedade brasileira, e em muitos graus diferentes, não apenas com os homossexuais.
Peço que, aquele que possua alguma justificativa plausível para a proibição do casamento homoafetivo, por favor, se manifeste quanto a esse texto. Porque, pelo visto, se existe alguma justificativa, sou realmente uma pessoa muito alienada do mundo para não conhecê-la. 
É... Cheguei a uma conclusão, no mínimo, irônica. Simplesmente me tornei intolerante à intolerância alheia sobre a igualdade social.

(Mariana Magalhães)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Dona da história

Certo dia desses, uma senhora, já com alguma idade, seus muitos filhos, seu sempre leal marido, seus milhares de netos, e seus infinitos amigos; contava mais uma de suas histórias que sempre agradavam o ouvido de seus ouvintes. Durante o percurso de sua história, sentiu uma dor desconhecida e preocupante, achou melhor procurar um médico para saber o que era aquele mistério agonizante. Recebeu com grande peso a notícia de que estava doente, sua mente sempre tão criativa lhe pregava uma peça, pior que uma dor de dente. Mas essa senhora era mais forte do que qualquer jovem adolescente. Foi enfrentar com unhas e dentes o inimigo que embaralhava suas histórias antigas e recentes. O tempo foi passando, e a luta continuando, mas sua força já andava bambeando. Ela sabia que era sua hora, mas só sossegaria dessa vida/história, no dia em que tivesse certeza que seus milhares não cairiam com ela por não ter alcançado essa vitória. Eternizou-se na memória de cada um daqueles infinitos que viveram com ela sua vida/história. Deixou em terra um legado. Agora era a hora de cada um de seus amados contarem, para seus próprios milhares, as histórias daquela doce senhora do sorriso eternizado.

(Mariana Magalhães)