sexta-feira, 14 de junho de 2013

A história de uma população inerte

Era uma vez, um país que sobreviveu a uma ditadura militar pesada, e que depois de muitas mortes de protestantes, muitas repressões à imprensa, muito sofrimento e pouco reconhecimento, o povo ganhou! E aos poucos começou a ganhar sua tão esperada democracia. Foi um início lento, os novos governantes começaram a elaborar a constituição federal que falava em igualdade e liberdade. Todos começaram a ficar muito felizes, pensando “Agora sim! Agora nosso país vai pra frente! Agora sim nós vamos crescer!”.
Mas com o tempo, na espera da aplicação pelo estado desses direitos tão bem escritos e tão desejados por todos, o povo foi se esquecendo de cobrar de seu governante a eficácia dessa mesma constituição cheia de direitos humanos, que dava gosto de ler. Logo, os “espertinhos” e egocêntricos que estavam no poder, tomaram proveito da inércia da população, que acabou se acostumando com a ideia de trabalhar até morrer, sem ver aquela linda constituição começar a literalmente vigorar.
Naquele país, existia um grande aliado do governo dos “espertos”, era uma certa emissora de televisão, que dominava o país e fazia lavagem cerebral na população, transmitindo para toda a população, todos os dias, aquilo que o governo queria que eles achassem que estava acontecendo, maquiando a realidade. A aparência que era passada era a de um estado que estava crescendo e se desenvolvendo, e que a qualquer momento, todos teriam, realmente, uma vida digna e poderiam ter orgulho de falar que viviam em um país democrático.
Mas, mais de 20 anos se passaram, e nada do desenvolvimento chegar, nada do crescimento acontecer. E, aqueles manifestantes que suaram e gritaram para revolucionar o país, já estavam cansados, não possuíam mais forças para protestar por tudo aquilo que continuava errado e precário. Começou então, uma indignação destes populares, mas não contra o estado, mas sim contra os jovens que agora teriam forças para combaterem o estado, como os mais velhos fizeram no passado, mas que não faziam nada para mudar o país. Acontece que muitos jovens já estavam acomodados com a vida “classe média” que possuíam, estavam tão bitolados com o mundo em que viviam que ninguém mais sabia diferenciar democracia do que realmente estava acontecendo nesse país.
Até que um belo dia manifestantes, em uma das capitais mais populares e poderosa economicamente, resolveram sair nas ruas para protestarem contra o aumento das passagens do transporte público, que ainda era muito precário e atendia mal a população, mas todo ano encarecia mais um pouco. Parecia tudo lindo, uma realização, finalmente aquela inércia popular estava começando a acabar, e o país a caminhar, lentamente, para um caminho de igualdade. Mas o pior aconteceu, uma manifestação pacífica foi atacada violentamente por policiais, que nem se quer estavam preocupados se machucariam alguém ou não. Estavam simplesmente obedecendo às ordens do chefe do executivo. E a repressão foi só piorando, muitos machucados, e até mesmo a imprensa, que não fazia parte da emissora sugadora de cérebros, estava sendo atacada. A manifestação acabou em caos total.
A emissora dos políticos mostrou para aquela parte da população, que ainda estava desacordada dos absurdos do estado, que os manifestantes eram os errados da história, que foram eles que atacaram os policiais primeiramente, e por isso, os militares precisaram usar da força física para contê-los. E muitos dos populares inertes acreditaram no que viram na TV.
Mas, o que o estado não esperava é que esses manifestantes já estavam preparados, a tecnologia já existia em suas mãos, diferentemente de 20 anos atrás. Muitos filmaram e fotografaram toda a agressividade sem motivo usada pela força policial, e usaram do maior meio de divulgação de informações do mundo, colocaram tudo na internet. E a polêmica começou. Os políticos começaram a ficar preocupados com aquele alvoroço todo. A população inerte, juntamente com aqueles manifestantes que já haviam acordado, começaram a questionar: “cadê a democracia?”, “onde estão os nossos direitos?”, “temos que acabar com a corrupção estatal!”, “policiais, vocês estão do lado errado! Afinal de contas, vocês também estão sendo roubados!”
A indignação foi crescendo em questão de dias, o estado estava desesperado, temia a força da população. A polícia não conseguia mais conter os manifestantes, eles, agora, eram em um número muito maior do que os militares, e não era apenas em uma cidade, o país inteiro começou a gritar pelos seus direitos constitucionais pelas ruas.
Até que um certo dia, o chefe do executivo não mais aguentou, cedeu a pressão popular e pediu para sair, admitindo não saber governar. Humilhado, foi julgado pelo Tribunal Superior, juntamente com todos os outros políticos corruptos e ladrões, por todos os crimes que cometeram. E assim, foram sentenciados e condenados, acabaram atrás das grades.
A população estava feliz e confiante, sabia que a partir de agora tudo seria diferente. Só entraria no governo quem eles realmente achassem ser digno de governá-los. As eleições aconteceram, e finalmente um candidato foi escolhido. Ele tinha sorriso cativante, os cabelos um pouco grisalhos, o que lhe dava certa credibilidade, tinha um discurso democrático e esperançoso. Agora sim, dessa vez, ia dar certo, o país ia mudar.
Após a sua posse no governo, o tão cativante chefe do executivo começou a rir, sem acreditar que realmente estava no cargo mais importante do país, novamente. Preferiu não causar estardalhaço com sua felicidade, não queria chamar a atenção dos mais desconfiados. Ele sabia que aquela população não tinha memória muito boa, que esqueceriam logo do escândalo que passou há muitos anos atrás, quando sentava naquela mesma cadeira. Só quem lembrava, que aquele senhor cativante e sorridente já havia sofrido um impeachment quando ocupava aquele mesmo cargo, eram os mais velhos, que não tinham mais forças para gritar suas reivindicações e mostrar a todos que um novo erro estava sendo cometido pela população.

E assim o tempo foi passando, e a população foi esperando...

(Mariana Magalhães)

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