quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ser e dever ser


A maioria das pessoas são aquilo que a sociedade, aos poucos, lhes impôs ser. Muitos nunca tentaram ser aquilo que realmente sonharam em ser. Alguns quase tentaram ser o que desejaram ser. Poucos foram atrás do sonho de ser o que queriam ser. Mas quase ninguém conseguiu ser e continua sendo o ser que, um dia, sonhou em ser.

(Mariana Magalhães)

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Sociedade do amor moderno

Era mais um dia comum. Carros buzinando janela afora, o Sol saindo quente como sempre, o despertador tocando sem atraso e incessantemente, mas ele estava feliz. Estava se sentindo bem, não via a hora de chegar ao trabalho. Estava apaixonado, à muito tempo não se sentia assim. Escolheu sua melhor gravata, passou perfume. Enfrentou o barulho rotineiro das ruas, a lotação do ônibus, o lixo espalhado pelas calçadas, mas não ligava para nada, independente do que acontecesse o seu sorriso não sairia do rosto.
Adentrou a grande sala refrigerada do escritório, lotada de divisórias que separavam o espaço em várias mini salas. A tensão local, com os prazos a serem cumpridos, contaminava todo o ambiente, menos a ele. Tinha descoberto o melhor escudo contra o estresse. 
Toca uma mensagem em seu celular. Seu coração vai à boca, pensa: "é ele".
"Nos encontramos no restaurante de sempre, às 19:30?". Ele solta um sorriso bobo, disfarçadamente olha para a sala de seu chefe, sorri para ele e aponta para que ele olhe o celular. "Claro, já estou com saudades". Após ler a mensagem, seu chefe, balançando a cadeira em que estava sentado, responde a mensagem com um sorriso solto e morde o lábio inferior da boca.
O dia passa rápido, ele olha ansioso para o relógio. Às 19 horas levanta rapidamente e vai direto para o restaurante, queria pegar a melhor mesa do lugar. A noite era importante, tinha o pedido a fazer. Dentro de uma caixinha, que guardava no bolso, tinha uma cópia da chave de sua casa. Pretendia chamar seu amado chefe para ir morar com ele.
As horas passam rápido. Já eram quase 20 horas e nada dele aparecer. O garçom já tinha lhe perguntado três vezes se gostaria de fazer seu pedido. Resolveu ligar, mas ninguém atendia. Preocupado, decidiu caminhar de volta até o escritório. Mas não precisou andar muito. Um beco próximo ao restaurante estava interditado pela polícia.
Quando viu aquela cena, teve um mau pressentimento. Foi, rapidamente, perguntar ao policial o que estava acontecendo. "O cara foi espancado até a morte. Pelo terno, suspeito que deve ser algum executivo. Tem algumas testemunhas falando que ele apanhou porque era gay."
Um frio congelou completamente sua barriga de uma forma descomunal. Sentiu enjoo, segurou para não passar mal. Saiu correndo em direção ao beco interditado, o policial tentou impedi-lo, mas não conseguiu. Então, aquele seu pressentimento ruim foi confirmado, era ele, seu amado chefe. De repente, toda sua felicidade foi embora, em questão de segundos.
No dia seguinte, seu querido e amado chefe, seria capa do jornal, pintado como mais uma vítima da moderna sociedade democrática.
(Mariana Magalhães)