Há tempos não passo por aqui, mas hoje acordei nostálgica.
Resolvi caminhar no parque, como sempre fazíamos aos domingos de manhã. O dia
estava com um ar positivo. Andei no meio daquele frio que, aos poucos, era
substituído pelo calor do Sol que, timidamente, começava a parecer no céu anil.
Quando cheguei perto do parque, vi duas crianças brincando.
Elas jogavam areia uma na outra e riam como se não houvesse amanhã, suas
risadas eram de uma sinceridade que passava a gostosa sensação de que o mundo
inteiro era igual à felicidade daquele momento. E de novo, lembrei do passado, lembrei
de você, de nós dois. Nossos momentos juntos tinham exatamente essa mesma
felicidade, a mesma alegria simplista e translúcida.
Não sei mais há quanto tempo não nos falamos, já perdi as
contas. Na verdade, nunca calculei esse tempo perdido, ele me seca a minha garganta,
me tira o ar, fica quase impossível respirar. Sei, apenas, que essas crianças
no parque me fizeram, finalmente, admitir para mim mesma, que sinto sua falta
todos os dias. Foi após esse momento de pura realidade que criei coragem e
deixei o ar encher meus pulmões ao máximo, me levantei decidida e cheia de
coragem. Sem pensar duas vezes, comecei a caminhar em direção a sua casa, e no
fundo, vim rezando, torcendo para que você ainda morasse na mesma casa, na Rua
25 de junho (coincidentemente, o dia em que nos conhecemos no bar da esquina).
Quando cheguei à sua porta (onde me encontro, neste momento,
escrevendo esta carta), hesitei por um momento, tive medo de tocar a campainha.
Pensei em, discretamente, ficar olhando sua janela, esperando alguém passar,
torcendo para que esse alguém fosse você. E não precisei esperar muito, você
passou pela janela, mas meus segundos de felicidade duraram pouco. Você estava
rindo, da mesma forma que aquelas crianças riam no parque, mas quem te fazia
rir e que te beijava com tanta sinceridade, era outra pessoa. Por alguns
minutos, fiquei estática, meu coração batia devagar. Lentamente, fui
escorregando contra o muro e acabei me sentando na calçada.
Respirava forte, mas o ar não enchia meus pulmões, comecei
com uma daquelas minhas crises de pânico que você bem conhece. Peguei meu
caderno da bolsa e disparei a escrever, aos poucos, comecei a respirar melhor e
quando me dei conta, estava escrevendo esta carta para você. Acho que senti uma
necessidade de te mostrar que ainda me importo, e que provavelmente, sempre me
importarei com você.
Espero que, um dia, eu
possa ser feliz sem você, da mesma forma que você aparenta ser sem estar ao meu lado.
Apesar de não fazer mais parte disso tudo, desejo, de todo o meu coração, que
você continue com toda essa alegria gostosa de ver, sempre gostei do jeito que
você sorri. Sei que sua felicidade já não faz parte da minha vida há muito
tempo, mas mesmo assim, ainda desejo que ela seja sempre tão translúcida e
infinita quanto à daquelas crianças do parque.
Com todo o meu carinho,
Daquela rabugenta que um dia fez parte dos seus planos de
felicidade.
(Mariana Magalhães)
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