terça-feira, 14 de setembro de 2010

Síndrome de Chicó

(Carlos Leda)

Quem se lembra da série exibida pela Rede Globo, que depois virou filme, “O auto da compadecida”? Provavelmente todos que viram se lembram, pois o texto é muito bem escrito e a estória bem tramada. E nesta estória tem dois personagens principais, o João Grilo, que é uma pessoa que usa a esperteza para sobreviver, e o Chicó, seu amigo covarde. E este Chicó tinha um bordão, no qual dizia “não sei, só sei que foi assim”.

E é por causa deste bordão que dei este nome ao meu artigo. O que classifico de Síndrome do Chicó é um mal que acomete muitas pessoas, que estão literalmente de passagem por este mundo, vendo as coisas acontecerem como meros espectadores de um teatro, e não como atores da vida.

Trabalhei em uma empresa onde eu questionava alguns procedimentos, os quais não os considerava corretos. Explicava meus motivos e o que ouvia era “Mas Carlos, é assim que funciona.”, e ponto final. Parece que ignoravam meus argumentos, independente se estavam corretos ou não, nem os analisavam, refletiam, e o consideravam para uma melhora, caso fosse possível. Simplesmente não era assim que aprenderam (ou foram doutrinados), e qualquer coisa fora disso era para ser descartada. Análise, reflexão, empatia, consideração? Nenhuma. Eram meros repetidores de ações designadas por outras pessoas.

Esse foi somente um exemplo que aconteceu comigo, mas será que você também não conhece alguém assim? Ou será que você (e eu também) não somos assim?

Somos bombardeados por uma sociedade a sermos seres não pensantes, sermos meros repetidores de padrões estabelecidos por não se sabe quem, onde não se sabe o motivo, onde não se sabe a origem. Pessoas compram produtos porque nos dizem que isso é o correto, andam na moda pois é isso que nos tornam felizes, agem todos iguais porque é isso que nos enturmam, dizem as mesmas coisas para serem ‘compreendidos’.

É uma mesmice embutida que torna todos verdadeiros robôs, só não sabemos quem nos programa. É tudo igual. E nessa massificação embutem que o diferente precisa ser destruído, pois ele é uma ameaça a nossa sociedade, nossa forma de agir, nossa forma de ‘pensar’, nosso estilo de vida.

E isso gera comentários do tipo “mas é assim que funciona” e ponto final, sem qualquer discussão ou chance de reflexão, afinal, as pessoas não são preparadas para pensar. Como disse um professor meu, “pensar dói”, e dói muito, por isso muitas pessoas optam pelo ópio da ignorância, e tentam destruir os ‘pensadores’ com desprezo, mas fazem isso por não suportarem não serem daquele jeito. Preferem o comodismo.

Claro que há muitas situações na vida que adotamos o piloto automático, e isso serve até como uma forma de nos pouparmos um pouco. Mas o que não podemos é, ao ouvir uma opinião diferente, ver uma ação sendo feita de modo diferente fechar os olhos, não refletirmos e continuarmos a agir do mesmo modo. Precisamos pensar, e depois tomarmos nossas próprias decisões. Se continuarmos a crer na mesma coisa não tem problema nenhum, o importante não é o mudar, mas sim analisar as outras visões. Mas temos que fazer as coisas pelo que nós acreditamos, refletimos, julgamos, analisamos. A ação tem que ser consciente, e não por convenção.

Ao invés de falarmos “não sei, só sei que foi assim”, que tal dizermos “não sei, só sei que está assim, mas analisarei para ver como poderá ser”?


http://www.soartigos.com/articles/136/1/Sindrome-de-Chico/Invalid-Language-Variable1.html

2 comentários:

  1. Penso que para termos nossas próprias opiniões não necessariamente precisamos ser diferentes. E uma pensamento que carrego comigo é que "existem diferentes e diferentes". Há "diferentes" que não trazem benefício nenhum para o individuo, tão pouco para a sociedade. Pensar e analisar é sempre bom, mas para situações onde se busca o melhor. Possa ser que para tal situação o melhor seja tal motivação, mas creio que existem outras motivações que não são tão "diferentes" e que trazem a mesma satisfação para a sua consciência. Um exemplo disso são os ridículos EMOS. E, existem aqueles "diferentes" onde se tem opiniões construtivas e estas são de grande valia para tal sociedade. Um exemplo dessas pessoas, são vocês do blog, parabéns e continuem assim.

    Essa é minha humilde opinião. Afinal, devo admitir que sou um mero espectador da vida. hehe

    Abraço Tetezilda!

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  2. Rubão,
    são comentários como o seu que nos faz ter mais vontade de continuar postando. Ficamos muito felizes de saber que estamos agradando as pessoas com nossos posts, colocamos aqui tudo que nos interessa e achamos legal compartilhar.
    =D
    Muito obrigada pelos seus comentários e visitas ao blog.
    Beijo

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