Fala por si só.

"Existe – ainda – uma camarilha de homens que pensa ser superior às mulheres. Soma-se a isso os mesmos preconceitos de sempre: racismo, antissemitismo, xenofobia, e todo o tipo de intolerância. No entanto, parece ser consenso ainda que tal tipo de pensamento resulta da falta de informação. Oras, se fosse assim Arnaldo Jabor deveria ser um dos maiores feministas haja visto todo o seu arcabouço intelectual. Circulou pela internet, e ainda circula em forma de corrente, um texto deste autor onde este homenageia as mulheres. Mulheres e homens repassam a crônica de Jabor louvando a sua congratulação pelo papel que a mulher cumpre para a vida do homem. Embora isso, eu gostaria de levantar algumas dúvidas com base no escrito citado.

Diz Jabor: “O cara faz um esforço desgraçado para ficar rico pra quê?”, e eu pergunto: a mulher não tem condições de ficar rica sozinha? Diz Jabor “O sujeito quer ficar famoso pra quê?” e eu questiono: a mulher depende da fama de um homem em que medida? Diz Jabor “O indivíduo malha, faz exercícios pra quê?”, e eu pergunto: a mulher só é atraída pela beleza física de um homem? Diz Jabor “A verdade é que é a mulher o objetivo do homem”, e eu lamento: seria a mulher um objeto a ser conquistado para ser um fim? Um alvo? Diz Jabor “É você quem decide a compra do apartamento, a cor do carro, o filme a ser visto, o local das férias” e eu pergunto: para benefício do homem? Do casal? Jabor ainda indica os motivos pelos quais os homens gostam tanto das mulheres. Para ele “O cheirinho delas é sempre gostoso, mesmo que seja só xampu”, e eu pergunto: uma mulher trabalhadora que tem que sustentar uma família toda realizando trabalho braçal se tornaria desinteressante ao chegar em casa? Por que então elas tem que suportar homens que nem se importam com o odor que trazem do futebol, do bar, da rua, etc? Insiste “A facilidade com a qual cabem em nossos braços”. Quer dizer então que mulheres não são auto suficientes e precisam sempre ser “protegidas” pelos homens? Com que cacife um homem pode afirmar isso? Só posso pensar que relações de poder predominam aqui.

Conclui Arnaldo Jabor que “A maneira que suas lágrimas tem de nos fazer querer mudar o mundo para que mais nada lhes cause dor” é um dos motivos pelos quais os homens gostam tanto delas. Oras, as mulheres precisam dos homens para mudar o mundo?

O fato é que nesta sociedade capitalista onde se criam os mais fracos, o homem para manter sua posição de poder é capaz de romantizar a própria mãe. Coloca a mulher num lugar exótico que maqueado de uma “singela beleza” nada mais serviria senão para servir ao homem. Jabor extrapola quando diz que gosta de “O modo que têm de se atirar em nossos braços quando choram”, reduzindo as mulheres a personagens históricos frágeis, inúteis sem os homens. Uma visão que gira em torno do próprio umbigo, ou melhor, de todos os umbigos masculinos.

O texto de Arnaldo Jabor até pode parecer “bonitinho” à uma primeira vista, mas camuflado na sua homenagem se reproduz uma ideologia barata e ultrapassada desde a pré-história, e que só se mantém na mesma medida em que o homem precisa construir uma autoimagem de senhor soberano do gênero para se manter numa situação privilegiada de controle social, esta que só se advém da incapacidade do homem de estabelecer uma relação igualitária de gênero.

Viva sim as mulheres. Mas viva principalmente as mulheres livres, mulheres independentes, mulheres que com garra procuram construir um mundo melhor. Aliás, viva a todas as mulheres, porque se nem todas tem condição de combater o preconceito que recai sobre elas, é porque patifes e covardes se aproveitam de sua posição para desmoralizá-las socialmente."

(Extraído de http://gustavosdelima.blogspot.com)