quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Ato Jurídico Perfeito

Querida!
Neste dia despertei com animus de amar
E nessa ordem do dia
Gostaria de proclamar
Sem mais delongas
A abertura da sessão
Que expressa sua ternura.

Quando dizes
Que fui feito para pleitear ao teu lado
No tribunal da vida
Teus carinhos eternos
Tua ternura singela

Com a devida vênia!
Não sei se teria o devido preparo
Pois teria quesitos
Que não responderia eu a contento
Os quais não permitem entender
O poder constituinte de tanta beleza.

És um ato jurídico perfeito!
De tão majestosa que és!

És protegida!
Figuras no rol das Cláusulas Pétreas!
Coisa soberanamente julgada!
Não existindo recurso ou ação
Capaz de modificá-la
Apoucado sou em direito comparado a ti

Tens a imunidade dos deuses
Fórum privilegiado das mais honrosas damas
Foste proclamada!
Norma amável!
Magna das beldades!
Ao som da democracia perfeita!

Com enorme prazer
Sofreria o bis in idem
Do teu beijo

Apegando-me a diligências
Pra encontrar o liame que nos une!
O nexo de causalidade de tão irreprochável sentimento!
Corolário da natureza
Que faz com que não te esqueça
Que faz com que esteja firme
No propósito de ter a ti.

E se por algum motivo
A lide que transgride a razão
Colacionar reiterados julgados em desfavor de ti
Executando a dívida da amargura
Fazendo-te sucumbir ao arrepio da solidão
Trazendo a termo
A segurança sentida
Tornando indiscutível a relação
Imutável
Sem esperança

Ainda assim
Seu sorriso concede a mim
A inspiração de uma excelente
Ação rescisória

Onde os tribunais da tristeza
A suprema corte da amargura
Não vêem outro caminho
A não ser
Conceder o Habeas Corpus da felicidade

E em decisão unânime
Promovem a concessão da liberdade
Face as irrefutáveis provas de meu amor por ti!

E se de outra forma
Em outro tempo da vida

Em posição de magistrado
Mesmo intempestivo para ter a ti
Não deixaria sua causa ser julgada por outro
Mas
Ao alvedrio da incompetência relativa
Acolheria a demanda
E faria prorrogar a mim

Para que com alegria
Extra,
Ultra petita
Prolataria a sentença
Mesmo que absurda!
Mas que possa delegar ao carinho
A competência absoluta de te amar

Ainda que não acolhida pela razão
E usurpando o poder judicante
Sofreria o aberratio
De não pertencerdes a minha função jurisdicional

Dominius litis seria em seu favor!
Pleitearia a sua causa!
Temeria deixar seu recurso deserto
Aforando extraordinariamente minha alma por ti

Ainda que o anacronismo da vida
Venha trazer a morte do companheirismo
Ainda que o ciúme legiferante
Venha a revogar nossa lei de paz

Tu podes
Com competência exclusiva
repristiná-la!

Ainda em um diferente momento
Em que ocorra reconvenção
Que tu serias meu patrono
E desta vez
Eu preso e perdido
Aprisionado pelo medo
Sozinho sem estar só

Esperando somente
O teu mandado
Que traz segurança
Livrar-me do tempo excessivo
Em que estive preso no cárcere da agonia

Outrora envenenado pelos dardos do passado
Agora tenho a livre iniciativa
A dignidade humana
Garantida pelo direito de te amar

Concedida pela tua soberania
Com plena eficácia

És o mais nobre e sublime dos preceitos!
Pertence ao rol das Cláusulas Pétreas
Com núcleo imodificável!
Intocável para abolir!

És a demanda mais digna
Mais sublime
A qual corte alguma
Em tempo algum
Teve a honra de julgar

Transcendental em majestade
Tão perfeita em plenitude
Mais querida entre as leis vivas

E se na presença de tanto não bastasse
E se de tudo
Outra vez
Estivesses tu em meu lugar

Seria eu
Teu defensor dativo
E quando a oposição da tristeza te combater
E o terrível membro do parquet
Com suas denúncias atrozes
Requerer a injustiça contra ti
Saiba
Que não serás revel!
Estarei ali
Não deixarei que deneguem a ti
A segurança pleiteada
E nas horas mais escuras
Onde a luz do ordenamento pátrio não te acolher
E se o socorro querido intempestivo for

Serei sempre seu recurso adesivo!
Sem supressão de instância!
Sem supressão do meu amor por ti.

E se por alguma intempérie
Restar ainda a ululante litigância de má fé
A qual possa tornar impossível a vitória
Ou mitigar a meu direito de te amar
Não declinarei da competência
Permanecerei firme

Sendo a comoriência
O único modo de me tirarem a vida
Pois viver sem te ter
Seria uma demanda perdida
Sem possibilidade de emenda
Fenecida
Destruída

Mas guerrearei
Batalharei pra trazer a ti o provimento
Reconhecido
Admitido

E ao vergastar a conquista
Pela sentença sentida
Sentença não sendo formal
Sentença final
Sem mais nada a prover

Como tudo bem relatado
E livre dos demais
Em minhas alegações finais
Posso agora afirmar

Teremos regozijo
Partilharemos mais sublimes e imensuráveis honorários
Jamais percebidos
Jamais desfrutados
Honorários do amor perfeito
Com a nobre causa vencida

Destarte
Agora indiscutível
Com adquirido direito
Tão zelado e perfeito
Viveremos o amor
Sem retorno da dor
Com todo poder de constituir

Emanado
Protegido
Escondido, mas reconhecido
Em ti
Pequena alma gêmea
Pequena Pérola da lei.

(Eduardo Franco Vilar)

http://www.poemas-de-amor.net/blogues/eduvilar/ato_juridico_perfeito


Pra quem curte uns poemas jurídicos.

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