Com você, Papai Noel,
Eu sonhei o ano inteiro
Com seu saco de papel
Todo cheio de dinheiro
Dizia-me toda gente,
Que você era bonzinho...
Que a todos dá presente,
Que a todos dá carinho
Por você, sofri um dia,
Por lhe querer imitar,
O que fiz, ninguém sabia,
Não pretendia contar.
Eu apanhei na vizinha,
As botas que engraxava...
Cortei as tranças branquinhas
Da vovó que cochilava.
E com roupão vermelho,
Completei a fantasia...
E perguntei ao espelho
Se com você parecia
A resposta pra comigo,
Foi pesada, foi profunda...
Depois de muito castigo,
Inda caí numa tunda!
Depois disto comecei
A fazer economia...
Não mais na rua brinquei,
Nem mesmo um doce comia.
E comprei uma chinelinha
Pra poder lhe esperar...
Deixei-a sempre novinha,
Sem nunca querer calçar.
E chegando o grande dia,
Da grande festa afinal,
Gritei também com alegria,
Viva a noite de Natal!
E a meia noite soou,
Cada sino repicava...
Missa do galo acabou,
Papai Noel não chegava!
Fui dormir impaciente,
A cada instante acordava,
Dei um salto de repente,
Era um rato que passava.
Fui correndo ao despertar,
Transbordante de alegria...
Quanta coisa ia ganhar,
Calcular eu não sabia!
Mas, qual não foi meu espanto,
Ao ver no quarto sombrio,
Meu chinelo lá no canto,
Abandonado e vazio!
Será que você, velhinho,
É exigente, de fato?
Não gosta de chinelinho,
Só põe presente em sapato?
Você é mesmo cruel!
Você é mesmo dureza!
Pois você, Papai Noel,
Não dá bola pra pobreza!
Quanta tristeza, então,
Ao saber que nesse saco,
Nem um pedaço de pão,
Você traz pro barraco!
(Eunice Miranda - 1952)
Nenhum comentário:
Postar um comentário