Um amigo da faculdade resolveu discutir acerca
do simbolismo da nossa democracia, em sua monografia. Ilustrando o que ele quis dizer, me explicou
que, de sua perspectiva, vivemos uma democracia de massa, e não uma que de fato respeita e dá voz às minorias como a teoria prega.
Enfim, o ponto é que, paralelamente, a 700km de distância
geográfica mas nenhuma distância subjetiva, ali em Brasília, elegia-se para a
presidência da Câmara de Direitos Humanos e de Minorias da Câmara dos Deputados,
ninguém mais ninguém que menos que Marco Feliciano. A proposta não é falar mal
dele, mas há um questionamento abertamente esquecido ou, talvez, simplesmente
negligenciado. Como posso esperar que alguém que não gosta de doces saiba
fazê-los com maestria? Ou que alguém que não gosta de rock’n’roll saiba a
biografia dos Rolling Stones? Ou que alguém manifestamente homofóbico, racista, evangélico e reacionário represente a luta pelas minorias sociais? É
simples assim. Não há lógica, creio eu, de nenhuma perspectiva social-antropo-psico-filosófica
da qual se queira ver. Freud não explica. Claro, há explicações
política-lobbystas-sei-lá-mais-o-que, mas meras explicações, nada que
justifique.
Diria que é o máximo do pouco caso que se poderia esperar como
demonstração vinda das duas torres brasilienses. Acima de qualquer dinheiro
“roubado do povo”. Acima de qualquer corrupção de qualquer gênero. Acima da
parcialidade que o STF possa apresentar. A CDHM está sem presidente que a
represente da forma devida. Está numa jangada, boiando em alto mar de águas
ácidas e deixando cair aqueles que nela depositaram esperança. Daí a monografia do meu amigo perder o objeto, já que resta provado empiricamente
que nossa democracia é, de fato e de ato, de massa.
A Comissão de Constituição e Justiça, tal
qual a de Seguridade Social e Família têm suas próprias funções, muito
mais abrangentes do que a especificidade dos Direitos Humanos e de Minorias da
CDHM, em especial considerando a constitucionalização simbólica na qual nos
inserimos, fazendo com que o ativismo da Comissão em questão seja, sim,
indispensável e insubstituível – digo isto em consideração à manifestação da
Direção Nacional de Juventude do PT (aqui).
Parafraseando minha companheira de blog, em uma discussão sobre como
damos um passo à frente e outro para trás: “É o Estado Desorganizado de Direito”,
ou como falei na mesma ocasião: Estado Demo-crático de Desorganização.
(Mariana Pio)
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