segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Viagem sem destino

Ela era inquieta e espevitada. Ele era sério e tímido. Ela estava voltando de apenas mais uma de suas aventuras na vida, foi explorar as serras mineiras. Ele procurava fugir de uma recente decepção amorosa. Teve o noivado rompido quando a dona do seu coração fugira com outro deixando apenas um bilhete de adeus.
Sentaram lado a lado com destino ao baiano mar azul. Ela tinha no colo um livro de Marçal Aquino, gostava de romances, principalmente os que envolviam terras brasileiras. Escrevia em seu caderno de bordo os relatos de suas escaladas intercaladas de pães de queijo e café. Ele transmitia um ar pesado e cansativo, lia algo sobre negócios e bolsa de valores, tentando, sem sucesso, distrair a tristeza. Depois de alguns segundos observando-o, ela começou a rir e resolveu perguntar o que um ser tão engravatado estava procurando no meio de uma terra com areia e mar. Ele incomodado com a pergunta, murmurou algo nervoso com uma aparência "não incomode". Foi então que ela entendeu que ele só poderia estar doente do coração, só não havia descoberto ainda como se curar da dor. Resolveu que não o incomodaria, voltou então para seus escritos.
Ao alcançarem o destino pretendido, ela pegou seu mochilão e seguiu a caminho da balsa para sua cidade. Na saída do aeroporto, encontrou o mesmo indivíduo ressentido, morrendo de calor e perdido na porta, sem saber aonde ir. Ela, como sempre cheia de iniciativa, já chegou tirando o livro da mão do rapaz. Ele, muito assustado, perguntou com uma voz enraivecida o que ela estava fazendo. E ela foi sucinta: "se quer parar de sofrer, deve primeiro se livrar de leituras pesadas e dessas roupas quentes e formais que o cercam." Ele respondeu como um pouco de rispidez: "e quem é você que pensa que sabe algo sobre mim?" Ela riu e começou a andar de costas, de volta para seu caminho, e disse: "sou a pessoa que pode te ajudar a aliviar o peso das costas. Se quiser, me acompanhe, moro perto daqui, posso te levar a lugares maravilhosos." Ele estava um pouco confuso, mas sentia que devia segui-la, mesmo sem saber exatamente porque. Quando se deu conta, já estava apressando os passos para alcançá-la.
Na balça para Arraial, ela perguntou o que havia acontecido com a responsável pela amargura em seu humor. Ele, apesar de um pouco receoso, desabafou sua história. Ao chegarem à casa dela, ele se encontrou em uma cabana modesta, aconchegante e na beira da praia. Pensara então, que ironicamente, achara a tranquilidade que queria em uma garota completamente fora do comum.
Depois de alguns dias conhecendo praias paradisíacas e lugares que apenas nativos saberiam como chegar, ele se realizou. Estava na plena paz interior. Resolveu perguntá-la como decidiu que levaria essa vida fora da realidade. E pela primeira vez, ele a vira perder o sorriso do rosto. Ela contou como tragicamente perdeu seus pais quando era pequena, como não suportava morar com seus tios que só queriam sua herança e como resolveu ser livre ao completar 18 anos. Contou histórias dos lugares que conheceu pelo mundo e juntos caíram em risadas partilhando momentos e intimidades.
Depois de três semanas com aquela mulher, percebeu que não sabia antes o que era ter momentos inesquecíveis de felicidade. Não queria abandoná-la. Quando ela dormia, perguntou baixinho em seu ouvido se poderia ficar por ali mesmo, em sua companhia. Ela respondeu sonambulando, que ele não poderia, mas que ele deveria ficar. Com um sorriso no rosto, ele perguntou novamente baixinho, porque ela quis tanto ajudá-lo quando o conheceu. Ela, ainda dormindo, respondeu se virando para ele, que desde a hora em que o viu, ela soube que queria descansar em seus braços. Naquele momento, um sorriso sem tamanho e uma felicidade extrema o fizeram experimentar um sono como nunca tivera antes.

(Mariana Magalhães)

Um comentário: