terça-feira, 4 de outubro de 2011

Perdida na multidão

Ele usava all star, tinha um jeito arrumadinho - desleixado, era tímido. Não lembrava muito que existiam pessoas a sua volta. Quando se apresentava, o palco tornava-se uma forma de escudo para o nervosismo. Tocava porque amava tocar. Geralmente, depois do show, não estendia muito à noite. Além de preguiça, criara uma antipatia dos seus fãs. Não por prepotência, mas a pouco, percebera que na maioria das vezes, o interesse era maior que o gosto musical. Bloqueara tanto sua mente para o público exterior, que quase deixara de perceber uma morena que vestia uma blusa do AC/DC, com um casaco xadrez que parecia grande demais para ela, e um arco preto que a deixava com mais cara de criança do que já tinha. Havia algumas semanas que ela estava presente em todos os shows da banda. Era uma viciadinha em rock, e havia criado uma paixão platônica pelo guitarrista. Graças a uma trombada acidental, surge um sentimento que passaria despercebido. Entre partituras espalhadas pelo chão e pedidos de desculpas atrapalhados, olhos se cruzaram. Alguns segundos em silêncio se olhando, trouxe o constrangimento à tona. Ele ficara hipnotizado com a beleza da garota. Ele gritou perguntando pelo seu nome, temendo que ela não respondesse. Com um sorriso no rosto, ela se virou e gritou: "Tereza". No show seguinte, a ansiedade o corroia por dentro. Precisava vê-la de novo. Um frio na barriga. A luz do holofote o cegava. Via muitas pessoas, mas nada da morena apaixonante. De repente um sorriso veio ao seu encontro. Era ela novamente.

(Mariana Magalhães)

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