Só a voz de taquara rachada e a sandália número 41 davam indícios do segredo que envolvia a natureza de Jeitosinha. Mas o que todos viam era uma loira de 1,70 m, cabelos sedosos até a cintura, cativantes olhos verdes, cintura fina, coxas grossas e bem torneadas, seios pequenos e um bumbum perfeito. "Como ela consegue não ter nenhuma celulite? Parece bunda de homem!", afinetavam as amigas.
Era sobre a beleza e feminilidade da filha que Marilena pensava, quando a chamou para uma conversa definitiva.
- Querida, tenho algo muito importante a lhe revelar.
- O que foi, mamãe? - perguntou Jeitosinha, apreensiva, lendo a angústia nos olhos da pobre senhora.
Marilena respirou fundo e foi diretamente ao ponto central do problema, como se tentasse extirpar com um único golpe o câncer moral que atormentava sua existência:
- Você não é uma mulher.
- Claro que não mamãe!
- V-você já sabia, Jeitosinha? - Surpreendeu-se Marilena.
- Claro. Tenho minhas amigas na escola. Embora você nunca tenha me falado sobre essas coisas, eu sei que não sou mulher. "Marilena respirou aliviada.
- Então você já sabia que... - Sim, mamãe. Eu ainda sou uma donzela.
Por um instante Marilena deixou-se abater pelo desânimo. Pensou em sumir, dar cabo da própria vida, qualquer coisa que a livrasse da enorme decepção que teria que causar à filha. Mas Jeitosinha era uma garota doce e compreensiva. E mesmo sendo loira, devia ter - mesmo que instintivamente - a percepção de que não era uma moça como as outras.
- Querida... - Perguntou Marilena - você nunca notou nada de estranho no seu corpo?
- Bem, mamãe... - respondeu Jeitosinha, encabulada - eu nunca entendi muito bem porque eu sinto uma dor horrível entre as pernas quando uso uma calcinha apertada ou tomo uma bolada no Vôlei...
- O que mais, minha filha?
- Hmmm... Nas aulas de Educação Sexual eu tenho uma certa dificuldade em entender por onde é que os homens depositam na gente as tais sementinhas...
Era a oportunidade que Marilena esperava para contar à menina toda a verdade.
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