quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ladrão processa vítima por lesões corporais

Juiz considera 'uma afronta ao Judiciário' ação que assaltante moveu contra comerciante dono de padaria, por ter levado surra ao tentar roubar estabelecimento em Belo Horizonte.

Uma ação em tramitação no Fórum Lafayette, em Belo Horizonte, leva às últimas conseqüências a máxima segundo a qual a Justiça é para todos - todos mesmo.

O pedido de um assaltante, preso em flagrante e que decidiu processar a vítima por ter reagido durante o assalto, provocou surpresa até mesmo nos meios jurídicos e foi classificado como uma "aberração" pelo juiz Jayme Silvestre Corrêa Camargo, da 2ª Vara Criminal, que suspendeu a ação.

Não satisfeito, o advogado do ladrão, José Luiz Oliva Silveira Campos, anuncia que vai além da queixa-crime, apresentada por lesões corporais: pretende processar, por danos morais, o comerciante assaltado.

O motivo: seu cliente teria sido humilhado durante o roubo.

Wanderson Rodrigues de Freitas, de 22 anos, se sentiu injustiçado e humilhado porque apanhou do dono da padaria que tentava assaltar. O crime ocorreu no mês passado, na Avenida General Olímpio Mourão Filho, no Bairro Planalto, Região Norte de BH.

Por volta das 14h30 de uma terça-feira, Wanderson chegou ao estabelecimento e anunciou o assalto. Ele rendeu a funcionária, irmã do proprietário, que estava no caixa. Conseguiu pegar R$ 45.

No entanto, quando ia fugir, foi surpreendido pelo dono da padaria, um comerciante de 32 anos, que prefere ter a identidade preservada.

"Estava chegando, quando vi minha irmã com as mãos para o alto. Já fui roubado mais de 10 vezes nos sete anos que tenho meu comércio.

Quatro dias antes de esse ladrão aparecer, tinha sido assaltado. Não pensei duas vezes e parti para cima dele. Caímos da escada e, quando outras pessoas perceberam o que estava acontecendo, todos começaram a bater nele também. Muitos reconheceram o ladrão como autor de outros assaltos da região", conta o comerciante.

Ele diz ainda que, para render a irmã, Wanderson escondeu um pedaço de madeira debaixo da blusa, fingindo ter uma arma.

"Pensei que fosse um revólver. Quando a vi com as mãos para o alto, arrisquei minha vida e a dela. Mas estava revoltado com tantos crimes e quis defender meu patrimônio. Trabalhei 20 anos para conseguir comprar esta padaria. Nada foi fácil para mim e nunca precisei roubar para viver. Na confusão, chamamos a polícia e ele foi preso em flagrante por tentativa de assalto "á mão armada", conta.

O comerciante acha absurda a atitude do advogado. "O que me deixa indignado é como um profissional aceita uma causas dessas sem pensar no bem ou no mal que pode causar a sociedade. Chega a ser ridículo", critica.

Quem parece compartilhar da opinião da vítima é o juiz Jayme Silvestre Corrêa Camargo. Em sua decisão, ele considerou o fato de um assaltante apresentar uma queixa-crime, alegando ser vítima de lesão corporal, uma afronta ao Judiciário. O magistrado rejeitou o procedimento, por considerar que o proprietário da padaria agiu em legítima defesa. Além disso, observou que não houve nenhum excesso por parte da vítima.

O magistrado avaliou que o homem teria apenas buscado garantir a integridade física de sua funcionária e, por extensão, seu próprio patrimônio.

"Após longos anos no exercício da magistratura, talvez este seja o caso de maior aberração postulatória. A pretensão do indivíduo, criminoso confesso, apresenta-se como um indubitável deboche", afirmou o juiz. Da decisão de primeira instância cabe recurso.

Com 31 anos de carreira, o advogado do assaltante, José Luiz Oliva Silveira Campos, está confiante no andamento do processo.

Ele alega que o cliente sofreu lesão corporal e se sentiu insultado e rebaixado por ter levado uma sova. "A ninguém é dado o direito de fazer justiça com as próprias mãos. Wanderson levou uma surra.

Ele foi humilhado e, por isso, além dos autos em andamento, vou processar o comerciante por danos morais", afirma.

Ele conta que há 31 dias Wanderson está atrás das grades, no Ceresp da Gameleira, pelo crime cometido no Planalto.

Além de justificar a ação,

ele desfia um rosário de teorias. "Não vejo nada de ridículo nisso. Os envolvidos estouraram o nariz do meu cliente e ele só vai consertar com uma plástica.

Em vez de bater nele, o dono da padaria poderia ter imobilizado Wanderson.

Para que serve a polícia? Um erro não justifica o outro. Ele assaltou, sim.

Mas não precisava ter sido surrado", afirma O advogado, acrescenta que sua tese é a de que Wanderson não estava armado, mas "apenas com um pedaço de madeira de 20 centímetros".

Ele também culpa o governo pelo assalto praticado pelo cliente. "O problema mora na segurança pública. Há câmeras do Olho Vivo pela cidade. Por que o poder público não coloca nas padarias também? Temos que correr atrás de nossos direitos e Wanderson está fazendo isso.

Meu cliente precisa ser ressarcido", diz o advogado.

5 comentários:

  1. Nossa...acho que eu não consigo comentar esse post! É uma situação que foge do normal. Por isso, quando eu converso com meus amigos futuros advogados, eu sempre falo com eles, estudem bastante, tenha um diferencial no currículo. Por que advogado ruim, tem aos montes!

    Esse advogado aí não tem mais nada pra fazer, é o verdadeiro "advogado porta de cadeia". 100 reais pra ele é lucro ao final do mês. Que vergonha!!!!
    Mas, por outro lado, o cara tem o direito de se defender né? Ridículo mesmo seria se o juíz aceitasse essas acusações! hehe

    Incrível. Acho que não falta mais nada pra eu vê nesse mundo!

    É igual o cara lá do Realengo, se ficasse vivo, apareceria alguns advogados dizendo que ele tem problema mental e tinha que se tratar. Não passaria de 6, 7 anos na cadeia.

    Eu acho a Justiça do Brasil muito falha.

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  2. Pois é, Rubão. Complicado isso. Acho que nesse caso, se a vítima abusou da força quando tentou imobilizar o assaltante pra não deixá-lo fugir da polícia,agrediu quando já não era necessário, acho que o assaltante pode sim indicia-lo por lesão corporal. Mas se for comprovado que tudo o que a vítima fez foi necessário para mantê-lo preso até que a polícia chegasse, então já parte pro lado em que o assaltante quer apenas "se vingar" por ter sido pego.
    Esses casos são complicados, né?! Pq existe aquele famoso "agi por impulso" ou "agi no momento de adrenalina".
    Vai tudo da análise do juiz.

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  3. É...existem vários pontos de vista! É difícil mesmo...no momento da adrenalina o bicho pega! hehe...
    Vai entender né..cada caso que a gente vê!

    Área difícil que você arrumou pra mexer hein Teté! hehehe...

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  4. Art. 25 do CP: "entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem."
    Não sou estudante de Direito, mas lendo o artigo, entendo que a partir do momento em que o agente não usa moderadamente do meio, ou que ele já não é mais necessário, ou ainda que a agressão já foi cessada, ele não se encaixa nessa ilicitude de conduta, e sim no crime de lesão corporal! Ou parece que no caso, também no crime de injúria!
    Agora, o negócio é o tal do bom senso, né? Qual o limite entre a lei estrita e o bom senso? Difícil apartar os dois, né?
    Eu como mero estudante de Biologia não acho que esse ladrãozinho tenha o direito de processar o comerciante, chega aser ridículo, mas eu só li o que está na reportagem... não sei exatamente o que se passou ali, então acho que o juíz deveria ter aceitado a ação para apurar o caso!
    Faz sentido?
    (Parecendo aquela discussão no buteco aquele dia em Teté?)

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  5. Pois é, Breno! Complicado isso, dependendo do caso, como eu disse no comentário acima, o ladrão pode sim processar, caso a vítima tenha usado força não necessária para imobilizar o criminoso e impedir sua fuga. Mas, isso é difícil demais de analisar. Tb não sei como o caso inteiro ocorreu, mas pelo o que eu vi o ladrão realmente apanhou desnecessariamente, "Caímos da escada e, quando outras pessoas perceberam o que estava acontecendo, todos começaram a bater nele também."
    O ladrão tem direito de indiciar a vítima, não acho absurdo, mas tb não dá pra ficar julgando sem entender tudo o que ocorreu.
    hehe
    Nossa, parece demais a conversa do bar =p
    alias, adoroo esses tipos de discussão, principalmente com uma cervejinha do lado! haha
    Beijos

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