segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Três doses de tempo


Batiam as primeiras 24 horas sem ele, e eu mal conseguia entender das horas. Sentada no terceiro bar da noite, com os mesmos bons e velhos amigos de sempre, percebi o que até então evitara pensar a respeito, mas agora o álcool me sacudia e despejava essa coisa toda na minha cara sem qualquer sugestão de piedade: ele não me amava. Nunca me amou. Eu não queria acreditar. Uma amiga me disse que isso que acontecia comigo toda vez que me permitia gostar de alguém era castigo – eu pagava pelo sofrimento que causei a um certo ex namorado ou alguma coisa do tipo. Lei da ação e reação, também conhecida como toma-lá-dá-cá. Então o melhor que eu podia fazer por mim mesma e por todo mundo era aceitar isso – aceitar que aquela coisa toda tinha sido a porra de uma mentira gorda e grande que eu agora tentava ver como uma lembrança dessas que arranca da gente um sorriso distante – e seguir em frente, pra qualquer direção que fosse. Então sugeri uma festa; musica boa, gente nova e bebida a rodo. Minutos depois estávamos num desses inferninhos no subsolo. Era uma loucura. Mas não era o suficiente. Então apareceu um velho flerte e no próximo momento estávamos fora.
A  próxima lembrança era de estar completamente anestesiada, me arrastando escada acima em direção a minha casa. Meu cabelo, minhas mãos, tudo tinha cheiro de outro. Minha boca tinha outro gosto – um gosto estranho. Ele não era ele. Ai entendi que isso não ia me ajudar, só ia me embaralhar... era pura mágica: eu queria acreditar nisso, que seria de qualquer valia, mas sabia que era mentira. Mais uma. Nada do que eu fizesse ali e agora iria me ajudar da forma que eu precisava. Só o que eu podia fazer era pedir uma dose a mais junto com a tequila:
- Uma... não, três doses de tempo, por favor. Com sal e limão.

(Mariana P.)

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