terça-feira, 15 de novembro de 2011

Iemanjás e o começo de outras histórias

Na mala, que na verdade era uma mochilinha jogada nas costas, trouxe uma muda de roupas, aquele velho livro que degustava há tempos, tão lentamente que o lia, uma lapiseira e o caderninho que passara a me acompanhar fielmente, desde que abandonei o hábito de levar o computador. Num bolso escondido da mochila, o colar que ele me dera para ser lembrado, minutos antes do ultimo beijo de despedida. Num bolso escondido em mim, aquele sentimento que fora um dia tão fortemente negado, ou rejeitado, até que resolvemos nos aceitar.

Cheguei. Tinha muito o que pensar e, particularmente, meditar. Arrumei carona no aeroporto; rapidamente eles me viram desaparecer pelo portãozinho branco de madeira daquela tão conhecida casa. Larguei a mochila num canto, não antes de tirar os sapatos e sentir o chão. Vaguei lentamente em direção à porta de vidro, observada pelas mais de mil Iemanjás pintadas, esculpidas e mosaiceadas pelas paredes. Já ouvia o som inebriante das ondas e sentia o poder que ele tinha sobre mim, em todos os níveis – corpo, mente, espírito. Passei pela portinha e senti a areia sob meus pés, o cheiro e o tato da maresia me invadindo lenta e gentilmente. Não havia sequer uma luz acesa na casa, mas a lua, incandescente, iluminava todo o velho caminhozinho de areia e matinhos até a beira do mar. Sentei-me na areia e transcendi, com o olhar pregado no céu e suas estrelas infinitas, e os ouvidos no som do oceano, gigante, que se estendia à minha frente. Agradeci em silêncio e divaguei sobre o maravilhoso início que tinha aquela nova jornada que eu acabava de começar. E com a bênção dos orixás, desejei-me sorte.


(Mariana Pio)

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