A ressaca
dominava meu pobre corpo há dois dias, e parecia ainda pior com o calor, além de
fazê-lo pior também. Mal conseguia sair daquele muquifo pra fazer qualquer
coisa, apesar da vontade de sair de dentro daquelas quatro paredes com cheiro
de álcool e perfume dormidos, bitucas, latas e garrafas vazias espalhadas pelo chão. O ventilador de teto rodava meio cansado, já não ajudava
tanto, e fazia uma bela dupla com o vinil rodando na vitrola, o que ainda me
cedia a sensação de estar num filme do Tarantino. Nem um ventinho, nem uma
brisinha. Só enrolávamos um cigarro atrás do outro, sem forças até pra conversar por muito tempo, mas em algum momento seria
necessário abandonar ali e partir - provavelmente rumo ao boteco de costume. Era difícil criar
qualquer expectativa que superasse muito esse marasmo quando o calor
insuportável era só a cereja do bolo de decadência em que vivíamos nos últimos
tempos.
(Mariana Pio)
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