quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Válvula de escape

O desespero chegou
o coração acelerou
Eu precisava correr
na verdade,
eu precisava escrever
Enquanto não desabafasse
minhas inquietações
através dos meus garranchos
nunca conseguiria
acalantar meu coração dos prantos.

(Mariana Magalhães)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A consciência tarda, mas não falha.

A eterna briga da protegida e da desgovernada, até quando isso vai dar em nada? Uns acham que é uma disputa desalmada, outros entendem que é uma batalha dominada. Parece até conversa política comprada. Fala, fala, fala. Entra em um ouvido e sai pela culatra. Mas o mundo dá suas voltas. A consciência tarda mas não falha. Um dia a batalha acaba, a guerra perde seu sentido, a desgovernada cresce e cai na estrada, mas não precisa ser guiada, já tem volante e mapa para seguir um caminho distante. E quem pouco a entendia e ouvia, agora cai na agonia, por perceber que passou a vida lutando com quem poderia ter passado a vida amando.

(Mariana Magalhães)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Três doses de tempo


Batiam as primeiras 24 horas sem ele, e eu mal conseguia entender das horas. Sentada no terceiro bar da noite, com os mesmos bons e velhos amigos de sempre, percebi o que até então evitara pensar a respeito, mas agora o álcool me sacudia e despejava essa coisa toda na minha cara sem qualquer sugestão de piedade: ele não me amava. Nunca me amou. Eu não queria acreditar. Uma amiga me disse que isso que acontecia comigo toda vez que me permitia gostar de alguém era castigo – eu pagava pelo sofrimento que causei a um certo ex namorado ou alguma coisa do tipo. Lei da ação e reação, também conhecida como toma-lá-dá-cá. Então o melhor que eu podia fazer por mim mesma e por todo mundo era aceitar isso – aceitar que aquela coisa toda tinha sido a porra de uma mentira gorda e grande que eu agora tentava ver como uma lembrança dessas que arranca da gente um sorriso distante – e seguir em frente, pra qualquer direção que fosse. Então sugeri uma festa; musica boa, gente nova e bebida a rodo. Minutos depois estávamos num desses inferninhos no subsolo. Era uma loucura. Mas não era o suficiente. Então apareceu um velho flerte e no próximo momento estávamos fora.
A  próxima lembrança era de estar completamente anestesiada, me arrastando escada acima em direção a minha casa. Meu cabelo, minhas mãos, tudo tinha cheiro de outro. Minha boca tinha outro gosto – um gosto estranho. Ele não era ele. Ai entendi que isso não ia me ajudar, só ia me embaralhar... era pura mágica: eu queria acreditar nisso, que seria de qualquer valia, mas sabia que era mentira. Mais uma. Nada do que eu fizesse ali e agora iria me ajudar da forma que eu precisava. Só o que eu podia fazer era pedir uma dose a mais junto com a tequila:
- Uma... não, três doses de tempo, por favor. Com sal e limão.

(Mariana P.)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O itinerante das sombras


Em uma sala de faculdade, tinha um aluno não muito adorado, nem um pouco idolatrado, estava mais para escorraçado. Não era feio, mas não era um príncipe, as meninas, que um dia o consideraram interessante, hoje, o viam como desgastante. Fazia questão de parecer inteligente, mas nem alguns professores aguentavam mais suas perguntas de puxa saco insistente. Engomadinho e de sorriso colgate, ria das piadas sem graças do professor e dava tapinha nas costas andando pelo corredor. Esse já nasceu perdedor. Construía sua personalidade à sombra dos outros. Não surpreendia mulheres interessantes, não fazia amigos confortantes, sua arrogância o tornava um indivíduo itinerante entre as sombras de gente importante.

(Mariana Magalhães)