domingo, 27 de novembro de 2011

Uma chuva de certezas

O céu se enche de nuvens pesadas e negras, trazem para a tarde ensolarada o cenário de um momento fechado, quase solitário. Decidi que era melhor não me atrever a molhar meus pés por você. A cerveja pode esperar. Assim como me convenci no passado, que podia esperar por você. A verdade é que não posso não. Esperar pelo incerto, é a mesma coisa que me arriscar por esse verão chuvoso sem uma sobrinha. Não sou mais aquela menininha de olhos vendados esperando ser guiada. A cada dia que passa, tenho mais certeza dos caminhos pelos quais quero andar, e pode ter certeza, a ilusão não anda nos meus planos. Não mais. O imprevisível pode até me pegar de surpresa, mas ele ainda é mais certo do que seus sentimentos por mim. Quer fazer alguém esperar, então experimenta me esperar te ligar, quem sabe, um dia, eu não resolva te reencontrar...

(Mariana Magalhães)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Um dia tudo acaba

Parecia que não amanhecia nunca. Aquele desconforto surgido na madrugada não passava. Ambos fingiam estar dormindo. E ambos não paravam de pensar a mesma coisa, mas sem saber da reciprocidade mental do acontecimento. Já tinham se amado no passado. Eram muito próximos. Combinavam como ninguém. Porque justo agora não daria certo? Vontade e tesão não faltavam. Tinha algo no inconsciente psicológico dos dois que servia de barreira. Precisavam descobrir, já era tarde demais.

(Mariana Magalhães)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Procura-se clarão

A solidão deixa
aberto o coração
E ele
mesmo sabendo que
não deve gritar em vão
fica sempre atrás
de um clarão
que possa tirá-lo
da escuridão
A dor vazia
não o deixa sossegar não
Ele nasceu aleijado
precisa se sentir desejado
Assim
ele se vê valorizado
E vive torcendo
para que aquele
que conquistá-lo
seja digno
de ter-lhe ao lado.

(Mariana Magalhães)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Iemanjás e o começo de outras histórias

Na mala, que na verdade era uma mochilinha jogada nas costas, trouxe uma muda de roupas, aquele velho livro que degustava há tempos, tão lentamente que o lia, uma lapiseira e o caderninho que passara a me acompanhar fielmente, desde que abandonei o hábito de levar o computador. Num bolso escondido da mochila, o colar que ele me dera para ser lembrado, minutos antes do ultimo beijo de despedida. Num bolso escondido em mim, aquele sentimento que fora um dia tão fortemente negado, ou rejeitado, até que resolvemos nos aceitar.

Cheguei. Tinha muito o que pensar e, particularmente, meditar. Arrumei carona no aeroporto; rapidamente eles me viram desaparecer pelo portãozinho branco de madeira daquela tão conhecida casa. Larguei a mochila num canto, não antes de tirar os sapatos e sentir o chão. Vaguei lentamente em direção à porta de vidro, observada pelas mais de mil Iemanjás pintadas, esculpidas e mosaiceadas pelas paredes. Já ouvia o som inebriante das ondas e sentia o poder que ele tinha sobre mim, em todos os níveis – corpo, mente, espírito. Passei pela portinha e senti a areia sob meus pés, o cheiro e o tato da maresia me invadindo lenta e gentilmente. Não havia sequer uma luz acesa na casa, mas a lua, incandescente, iluminava todo o velho caminhozinho de areia e matinhos até a beira do mar. Sentei-me na areia e transcendi, com o olhar pregado no céu e suas estrelas infinitas, e os ouvidos no som do oceano, gigante, que se estendia à minha frente. Agradeci em silêncio e divaguei sobre o maravilhoso início que tinha aquela nova jornada que eu acabava de começar. E com a bênção dos orixás, desejei-me sorte.


(Mariana Pio)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Um tipo clichê nada clichê.

É do tipo"moreno, alto, bonito e sensual". Ainda tem um plus, é inteligente, canta e toca bem. Que mulher precisa de mais? Mas, claro, tinha que existir um defeito. O destino nunca foi de facilitar, porque faria isso agora? De férias é que ele nunca está, na verdade, ele faz hora extra. Acontece que o "negão de tirar o chapéu" não é de ninguém, ele não pertence nem a ele mesmo. É do mundo, para um dia o mundo ser dele. É daqueles que um dia se tornam histórias gostosas e saudosas da juventude. É daqueles que não roubam seu coração, mas sempre que está por perto, te enchem de paixão. É do tipo de homem que sempre quer e vai além, se torna infinitude até mesmo na mente daqueles que ele cativa. A ideia é aproveitar, estilo carpe diem, absorver tudo de bom que ele transmite abundantemente. Progredir com esses sentimentos ad-hoc, e um dia, ter o deleite de sorrir dessas lembranças bem vividas.

(Mariana Magalhães)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Descobriu a estupidez

Ele não conseguia mais evitar. Ela sempre lhe faltava o ar. Ela era seu sonho de consumo, e ele a perdera pela ideia do que era "viver a vida". Ela amadureceu, percebeu onde se meteu, deu graças a Deus, de não estar mais com aquele que só prometeu. Ele se envolveu, deixou aquilo se tornar duradouro. Os sentimentos ocorriam opostamente, transformavam o que era sólido em volátil. Ela descobriu a sensatez e ele descobriu, de uma só vez, o que é perder por estupidez, aquela que um dia, te fez tão feliz como ninguém nunca fez.

(Mariana Magalhães)

domingo, 6 de novembro de 2011

Soneto de cá pra lá

De traz pra frente em passos pequenos
De dentro pra fora em surdos suspiros
refaço momentos que ha pouco vivemos
revejo um futuro de doces delírios

De cima pra baixo em meros detalhes
De um lado ao outro em mudos abraços
relembro minutos de vários lugares
revivo um passado guardado em seus lábios

Receios e medos teimam em separar
aquilo que um dia já fora um par
mas um sentimento não vai se calar

Receitas e dedos não podem curar
aquilo que o coração insiste em falar
e um sentimento não quer se mudar

(Rafael Guedes)